Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

A interseccionalidade como ferramenta analítica da Educação Infantil

Keziah da Costa Silva Rezende (Universidade Federal da Bahia)

Resumo: A escola é uma representação do social em que a criança pode vir a ser no mundo, encontrando nesse ambiente possibilidades de subjetivação e construção do seu Eu. Na última década, o cenário escolar vem sofrendo intensas transformações, refletido na proposta da nova Base Nacional Comum Curricular (2017) que preconiza que o ambiente escolar pode e deve contribuir com o desenvolvimento integral da criança, isto é, com seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Compreende-se que a Educação Infantil atua, na contemporaneidade, como dispositivo de cuidar-educar de bebês e crianças pequenas. Tal papel desempenhado por estas instituições de cuidar-educar carrega consigo marcas de desigualdade que entranham os seus muros e invadem o seu espaço, sem pedir licença.  Nesse sentido,  os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil (2019)  informam que as questões raciais são percebidas como uma forma de distinção no cuidar dos pequenos e  que “ nas creches e escolas, a discriminação racial acontece com bebês, entre crianças, estudantes, profissionais da educação e familiares” (p. 20). O documento ainda aborda que bebês e crianças vivenciam na escola precarização do reconhecimento social, por vezes distanciamento social e até mesmo desigualdade do afeto em comparação a crianças não negras. Um dos motivos que corrobora com os atos de segregação social e discriminação racial é a não-inclusão da temática racial como projeto político pedagógico e/ou como parte da formação de gestores e professores. A ausência presente dessas ações demonstra  que  os currículos das escolas não dão  relevância a essa temática (BRASIL, 2019). Esses exemplos representam configurações de práticas racistas vigentes em nossa sociedade, que desde a creche, desde os bebês, continuam sendo transmitidos. A quebra desse ciclo alienante pode ser encontrada no mesmo lugar em que ela é reproduzida, na educação Diante deste cenário, propõe-se que é possível pensarmos a interseccionalidade como ferramenta analítica no contexto da Educação Infantil. De acordo com Collins e Bilge (2020) “a interseccionalidade investiga como as relações de poder que se cruzam influenciam as relações sociais em diversas sociedades, bem como as experiências individuais na vida cotidiana. Como uma ferramenta analítica, a interseccionalidade vê categorias de raça, classe, gênero, nação, habilidade, etnia e idade – entre outras – inter-relacionadas e mutuamente moldando umas às outras (grifo meu, p.12). No contexto escolar, a interseccionalidade pode ser usada como metodologia para identificar as limitações no campo educacional e promover a diminuição das desigualdades (ASSIS, 2019), alterações na proposta pedagógica, mudança de postura dos profissionais da escola frente às questões de cunho racial e consequentemente promover o cuidar-educar dos pequenos mais humanizado. Sendo assim, pensar a interseccionalidade como aporte metodológico não se restringe em identificar os marcadores sociais das diferenças, mas sim propor uma mudança nesse cenário em que se torna viável fazer uso da interseccionalidade no contexto escolar. O seu uso está para além de localizar possíveis discriminações e/ou violências institucionais, mas se funda na possibilidade de conectá-la com a justiça social e refletir sobre como os movimentos de opressão institucional que atravessam os corpos e as vidas daqueles que constituem a Educação Infantil.



REFERÊNCIAS: 

ASSIS, Dayane N. Conceição. Interseccionalidades. – Salvador: UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências; Superintendência de Educação a Distância, 2019.

BRASIL, Indicadores da qualidade na educação infantil: dos projetos político-pedagógicos das escolas à política educacional, Ação Educativa - São Paulo: Ação Educativa, 2019, 1a edição. Disponível em: https://educacaointegral.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Guia_Indique_Educacao_Infantil.pdf. Acesso em 08 de agosto de 2020.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (versão final). 2017. Disponível em: 17- <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_publicacao.pdf> .

COLLINs, Patricia Hill. Interseccionalidade [recurso eletrônico] / Patricia Hill Collins, Sirma Bilge ; tradução Rane Souza. - 1. ed. - São Paulo : Boitempo, 2020..


Palavras-chave: Interseccionalidade; Educação Infantil; Discriminação racial.

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