Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Transvisibilidade: re(existência) de corpos dissidentes de gênero no cis-tema de ensino superior

Maria Alice Teodoro da Silva, UFAL - Unidade Palmeira dos Índios

Gilvana Suane Santos de Souza, UFAL - Unidade Palmeira dos Índios

Ingrydy Lara Araújo Silva, UFAL - Unidade Palmeira dos Índios

Luana Cláudia Ferreira Magalhães, UFAL - Unidade Palmeira dos Índios

Ranielli Oliveira Barbosa, UFAL - Unidade Palmeira dos Índios

Maria Augusta Costa dos Santos, UFAL - Unidade Palmeira dos Índios

Resumo: Considerando o compromisso humano-ético-político atuacional das autoras deste trabalho como estudantes e futuras profissionais de Psicologia, se torna necessário ocupar espaços de problematização sobre os aspectos que rondam as populações marginalizadas e excluídas na conjuntura social. Neste sentido, utilizando a questão da transexualidade como referência, percebe-se que, principalmente com a democratização do uso do ciberespaço, as discussões têm se amplificado, entretanto ainda partem da perspectiva de definir universalmente o que é ser trans e do binarismo entre performar feminilidade ou masculinidade, sem levar em consideração a fluidez e construção constantes de identidades (MOURA, 2019). Contudo, novas formas de pensar e viver as dissidências sexuais e de gênero vêm sendo traçadas, pautadas na quebra dos padrões coloniais, os quais colocam o homem-branco-hétero-cis-normativo-europeu como o ideal do que é ser humano (MOMBAÇA, 2016). Assim, enfrentar, bagunçar e estilhaçar o sistema cissupremacista que vem aniquilando e violentando as pessoas trans faz-se imprescindível para a luta contra as lógicas de dominação pautadas na deslegitimação desses corpos, e que se imbricam nas mais variadas esferas da existência, sobretudo no que diz respeito à educação. Tomando como cenário educacional a Universidade Federal de Alagoas, Unidade Palmeira dos Índios, comunidade acadêmica que nós estamos inseridas, esses corpos trans pouco estão presentes e não ocupam espaços que deveriam ser seus, por isso, nota-se a importância de construir e fortalecer formas de existência que pensem para além do cis-tema dentro do ensino superior. Para efetivar essa quebra e ampliar as discussões das transgeneridades no âmbito universitário, tem-se como objetivo desse trabalho questionar a eficácia das ações destinadas às pessoas trans para acesso e permanência nesses espaços. Para tanto, a metodologia escolhida consistiu na pesquisa de documentos públicos, com levantamentos dos mesmos na Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), da UNESCO e no site da UFAL, com os marcadores trans” e “educação”. Nosso referencial teórico está pautado em Jota Mombaça e Cauê Moura, pessoas atravessadas pela vivência trans em suas produções de conhecimento. Após estudos e análises, pode-se afirmar que é notório o papel da educação no desenvolvimento de tomada de consciência do indivíduo. Tendo em vista que é primeiramente na família que a criança é socializada e educada, esse núcleo pode ser capaz de suscitar nela determinadas crenças e preconceitos como os referentes à gênero que serão reforçados durante toda sua vida educacional. Esse contexto acaba encorajando os sujeitos a exercerem micro e macroviolências, como aponta pesquisa sobre juventude e sexualidade realizada pela UNESCO, na qual 1/4 dos jovens demonstraram que não gostariam de conviver com colegas homossexuais na escola. Esse preconceito é ainda mais recorrente no caso de pessoas trans, fator que dificulta sua vida acadêmica já no ensino básico. Tendo que encarar essas discriminações tão cedo, muitas sequer conseguem adentrar o ensino superior, nos ajudando a compreender porque apenas 0,02% estão presentes nesses ambientes – parcela ínfima, se comparada a totalidade de pessoas trans no Brasil, que corresponde a 2% (ANTRA, 2019). No que tange às iniciativas em suscitar uma academia que efetue o acolhimento adequado, observa-se a tomada de medidas como a implementação de cotas para a presença desses corpos nas instituições. Todavia, compreende-se a insuficiência quantitativa e qualitativa dessas ações, visto que a execução das práticas divergentes aos processos iníquos perpetua-se balizada por violências, como indisposição do uso de nomes sociais, privação a banheiros do gênero identitário e falta de arcabouço teórico de produções que transcendam as narrativas hétero-cis-normativas, inviabilizando a apropriação e diálogos por meio de referências na área. A questão se precariza mais nos campus da UFAL localizados em regiões mais interiorizadas como é o nosso caso onde ações em prol da permanência dos corpos trans (como pesquisas de pareamento para identificar suas existências e demandas) não são desenvolvidas. A instituição não está acompanhando o ritmo dos direitos já conquistados por essa esfera estudantil, e essas ações afirmativas não podem se restringir às capitais. Percebe-se então que a questão não se desenrola apenas na falta de abertura para as vivências trans dentro do espaço universitário, pois em realidade, há supostas aberturas assistidas em leis e normativas que nunca são cumpridas, a problemática se encontra na infraestrutura social que se desenvolveu no modelo cis, e que não permite um bem-viver social para pessoas trans, pois, pelo que pode ser compreendido através das diversas explanações de violência, os corpos trans não são permitidos nos espaços sociais, por exemplo, no âmbito da educação superior, tomando como referência a UFAL de Palmeira dos Índios, local onde não existem ações afirmativas concretas, tendo apenas nos becos e no silêncio seu lugar de existir. Portanto, faz-se necessário não apenas questionar e criticar o cis-tema e seu projeto de apagamento e silenciamento das transgeneridades, mas atacá-lo com a promoção de acesso e permanência dos corpos desviantes no mundo acadêmico, trans-formando a universidade em um espaço de pluriversidades.


Palavras-chave: pessoas trans; gênero; identidade; ações afirmativas; universidade.

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