Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Práticas grupais e trabalho da/o psicóloga/o: relato da experiência com mulheres no CREAS/SUAS
Maria Cláudia Mota dos Santos Barreto - Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Resumo: O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) é um equipamento situado na Proteção Social Especial (PSE) do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), com a finalidade de acolher, orientar, atender e acompanhar pessoas e famílias em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos. Oferta trabalho social, a partir de equipe técnica composta por psicóloga/o, assistente social e advogada/o, além de orientadoras/es sociais, coordenação e outras/os trabalhadoras/es com nível médio. Atua buscando o reconhecimento do protagonismo e da autonomia das/os demandantes, perante decisões e respostas às suas situações de vida e propõe construir estratégias de fortalecimento dos vínculos familiares, além de assegurar o acesso ao conhecimento dos direitos socioassistenciais (BRASIL, 2011). Diante de tal contexto, o objetivo deste trabalho é descrever e analisar a experiência de atuação profissional com um grupo de mulheres demandantes de um CREAS, localizado em um município do interior do estado da Bahia. Caracterizamos o grupo como aberto, pois se reunia quinzenal ou mensalmente, com a mediação da psicóloga e/ou assistente social do equipamento, recebendo participantes a todo o tempo, devido ao fluxo do próprio serviço. A definição do tema e do formato de cada encontro acontecia através do diálogo da equipe com as participantes. Conforme Pereira e Sawaia (2020), esse tipo de grupo possui objetivo mais amplo, acontece de modo contínuo e se configura como se fosse um encontro único, apresentando dia e horários marcados previamente. As autoras salientam que “a composição do grupo não depende dos desejos de uma única pessoa, mas sim dos objetivos propostos àquela prática grupal, da população para quem se oferece o serviço e de possibilidades diversas do contexto” (2020, p. 69). As ações grupais propunham constituir um espaço de acolhimento às mulheres em situação de violência doméstica e/ou que vivenciavam outra violação de direitos na família, assim como de reflexão sobre temas que perpassavam as suas histórias de vida. Para tanto, as atividades eram realizadas de modo a fomentar a produção de fala e de escuta, através das quais as mulheres poderiam romper os seus silenciamentos, bem como (res)significar as suas próprias vivências. Para a concretização do grupo, uma das dificuldades enfrentadas foi a organização da agenda do equipamento para manter a periodicidade dos encontros, visto que a equipe técnica estava incompleta e era formada somente por duas profissionais, as quais precisavam também acolher outras demandas. Outro desafio encontrado foi a compatibilidade de horário para o planejamento dos encontros, pois o entendimento da equipe era que a atividade deveria ser sustentada teórica e tecnicamente, para que não acontecesse de qualquer jeito, tampouco se configurasse como palestra ou momento de dizer como as pessoas deveriam agir. Ao longo dos encontros, percebemos que o espaço grupal promovia o estabelecimento de vínculos entre a equipe e as demandantes, como também entre as próprias participantes. Muitas mulheres demonstravam a importância de participar desse dispositivo e sinalizavam que o grupo representava um “suporte” para lidar com as situações cotidianas. Notamos que algumas apresentavam dificuldades de compartilhar opiniões e experiências, mas aos poucos se expressavam do seu modo e mediante suas possibilidades. Observamos que ocorria o incentivo aos projetos e anseios individuais (e coletivos), culminando, por exemplo, no movimento de retorno ou ingresso na instituição escolar para estudar na vida adulta ou velhice. Entendemos que o processo grupal proporcionou a construção de novos lugares subjetivos e se constituiu como um ambiente de expressão de desejos, sentimentos e perspectivas de vida e futuro. Nas teias desta experiência de trabalho, é possível apreender que, como pondera Martín-Baró (1996), a solução de problemas complexos não acontece somente de modo individual e “subjetivo” e todo contexto social é passível de inúmeros questionamentos. O exercício laboral no CREAS é direcionado à públicos diversos, em diferentes faixas etárias e fases do desenvolvimento. Embora a centralidade do trabalho esteja localizada na família, existem situações específicas que atingem os grupos familiares e requerem variados mecanismos de intervenção, tecendo estratégias de atuação que considerem e contextualizem as/os sujeitas/os que deles fazem parte. Assim, torna-se necessário e urgente pensar nas especificidades das mulheres atendidas pelo equipamento, construindo espaços de reflexão e problematização do machismo, do patriarcado e da misoginia, em suas ressonâncias e desdobramentos.
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS. Brasília, 2011.
MARTÍN-BARÓ, I. O papel do Psicólogo. Revista Estudos de Psicologia, v. 2, n. 1, p. 7-27, 1996.
PEREIRA, E. R.; SAWAIA, B. B. Práticas grupais: espaço de diálogo e potência. São Carlos: Pedro & João, 2020.
Palavras-chave: assistência social; psicologia; atuação profissional; mulheres; práticas grupais.