Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Partilhando vivências e construindo um olhar crítico para o existir feminino

Vitória Gabriele Simplicio Santos, Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Resumo: O intitulado projeto Mística Feminina, teve como finalidade debater os capítulos do livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. O objetivo desse Projeto foi reunir mulheres sejam elas, cis, trans, não-binárias, com ou sem útero para debater e compartilhar suas vivências através das leituras de cada capítulo, utilizando como base metodológica os conceitos analíticos de Carl Gustav Jung, empregados no método da Imaginação Ativa, expansão da consciência e desenvolvimento de intervenções grupais. Portanto, foi permitido espaço de fala às mulheres para que elas pudessem relatar suas experiências e dar novos sentidos às suas vivências. Para a divulgação do projeto, foram realizados posters através das redes sociais, convidando as mulheres, além de formulários para que elas pudessem descrever o interesse no projeto. No total foram cerca de 30 mulheres, a partir de 18 anos de idade, envolvidas no projeto. Essas mulheres foram divididas em três subgrupos e para o presente trabalho os resultados foram extraídos de um desses subgrupos, composto por 12 mulheres. Foi promovido encontros semanais de forma remota, através do Google Meet, durante três meses, onde cada grupo possuía uma equipe de coordenação composta por uma estagiária e duas extensionistas. Antes de cada encontro foi realizada a elaboração de um resumo/fichamento sobre o respectivo capítulo a ser trabalhado naquela semana e a construção de uma intervenção. Apesar da utilização de algumas técnicas de comunicação/linguagem fundamentadas nas teorias de grupo, as intervenções possuíram caráter individual e se deram a partir das interpretações proporcionadas pela leitura, e através dessas interpretações as mulheres compartilhavam vivências pessoais e novas compreensões sobre as variadas temáticas abordadas no decorrer dos encontros. Após a realização do contrato grupal, estabelecendo todas as questões de respeito e sigilo ético, foram realizados os momentos de partilha. Nos primeiros momentos dos encontros, as mulheres demonstraram-se cautelosas, porém, ao passar do tempo, todas sentiram-se seguras para realizarem seus relatos pessoais. As participantes trouxeram suas falas a partir de cada capítulo do livro, onde foi colocado relatos e discussão sobre problemáticas sociais bastante atuais, como a autoestima da mulher, questões de gênero, de cor e raça, relacionamentos abusivos, pressão sociocultural sobre padrões de corpos, indústria da beleza feminina e, também acerca das questões e impasses de ser mãe “solo” na atualidade. Em cada vivência relatada foi percebido que aquele espaço era, sem dúvidas, um espaço de acolhimento, sendo possível analisar que se tornou uma estratégia bastante útil para o aumento da resistência e do fortalecimento do poder feminino, onde cada uma que estava no grupo se apoiou e se ajudou em momentos difíceis durante os meses de debate do livro. A maior dificuldade enfrentada nesse processo foi justamente acerca dos assuntos que estávamos debatendo: o ser mulher. Experienciamos uma evasão durante o desenvolvimento dos encontros, no início dos debates, havia cerca de 12 mulheres e no final restaram apenas 3. Os encontros eram noturnos e a maioria das mulheres eram mães com jornada dupla de trabalho, ou trabalho e estudo, resultando assim em uma sobrecarga intensa ao final do dia e, consequentemente, em desistência dos encontros ou faltas. Como forma de minimizar essa questão, houve a continuação de forma sistêmica dos fichamentos e das intervenções dos capítulos para o grupo no WhatsApp, para que assim as mulheres conseguissem acompanhar, de acordo com seu tempo, os capítulos do livro. Com a possibilidade dos encontros online foi possível ter trocas com mulheres de outros estados com os horários flexíveis, porém houve uma perda de interação. Mesmo que algumas mulheres tivessem abertura para falar, por serem extrovertidas, outras eram mais introspectivas para ligar câmera ou microfone do Google Meet. Diante disso, houve fragilidade no processo de interação do grupo. Porém, mesmo com estes impasses, todo o momento foi cheio de experiências, aberturas, acolhimento e afeto, coisa difícil de acontecer na atualidade, já que a solidariedade feminina não é estimulada, pelo contrário. Ainda, foi possível perceber e ouvir diversas realidades diferentes, embora também apresentassem similaridades entre si. Ademais, foi visto que enquanto mulher se é mais capaz do que realmente é pensado, e que com essas trocas e apoio mútuo é possível ser mais forte e conseguir resistir as repressões da sociedade.


Palavras-chave: "Fortalecimento Feminino"; "Repressão Feminina"; "Partilhas Grupais"

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