Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Interseccionalidade e decolonialidade: interpelações à Psicologia Social
Larissa Ferreira Nunes (Universaidade Federal do Ceará/Faculdade Vidal de Limoeiro do Norte)
Carla Jéssica de Araújo Gomes (Universidade Federal do Ceará)
Tadeu Lucas de Lavor Filho (Universidade Federal do Ceará/ Universidade Estadual do Ceará)
Marta Clarice Nascimento Oliveira (Universidade Federal do Ceará)
Jéssica Silva Rodrigues (Universidade Federal do Ceará)
Mayara Ruth Nishiyama Soares (Universidade Federal do Ceará)
João Paulo Pereira Barros (Universidade Federal do Ceará)
Emmanoelly Silva Rocha (Centro Universitário Estácio do Ceará)
Resumo: O presente trabalho objetiva discutir de que forma as lentes interseccionais e decoloniais interpelam a Psicologia Social em direção a um saber e fazer comprometido ética-estética-politicamente com a transformação social. O interesse na temática parte das leituras proporcionadas no âmbito de ensino, pesquisa e extensão no Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES), ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC). Partimos de um ensaio crítico, enquanto metodologia qualitativa, a partir de leituras de autoras e autores referências nos estudos interseccionais e dos feminismos negros internacionais e brasileiras, tais como Carla Akotirene, Sueli Carneiro, Leila González, Djamila Ribeiro, Bell Hooks, Kimberlé Crenshaw, Patrícia H. Collins, Audre Lorde, Angela Davis, etc.; críticos à colonialidade, como Maria Lugones, Sayak Valencia, Grada Kilomba, Jota Mombaça, Aníbal Quijano, Aimé Césaire, Frantz Fanon, Achille Mbembe, etc.; e da Psicologia Social como Conceição Nogueira, Claudia Mayorga, Anna Uziel, Jaqueline de Jesus, Jaleila Menezes, Ana Bock, Silva Lane, Martín Baró, Luís Claudio Figueiredo, Pedro. P. Bicalho, João P. Barros, Lucas Veiga, dentre outras/os. Os resultados e discussões estão divididos da seguinte maneira: 1. Psicologia e decolonialidade, para pensar a interface entre crítica colonial e a Psicologia enquanto uma ciência fundamentada em bases européias, universalistas e propostas a partir de um ideal de sujeito individualizado. Enfocamos, portanto, na perpetuação da colonialidade, a partir dos seus quatro eixos estruturantes (colonialidade de saber, de ser, de poder e de gênero), para reformular uma Psicologia que não ignora os tentáculos coloniais em sua formulação enquanto ciência e profissão no Brasil. Na base da ciência psicológica, há resquícios ainda de um conhecimento legitimado que corrobora para um “não lugar”, “não situado” e “imparcial” (objetivo), que esquece do sujeito em contexto e movimento, enfrentando críticas a partir de novas práxis imbricadas socialmente. Fazemos então a ampliação dessa implicação política que deve ter a Psicologia, atentando para os efeitos da colonialidade tardia, como aponta Mbembe, com determinadas populações; 2. Psicologia e interseccionalidade, em que partimos de uma leitura histórica do movimento de mulheres negras e seu enfoque na inseparabilidade de marcadores de opressão e privilégio social para a constituição de experiências e vivências díspares na sociedade. Assim, a perspectiva contribui para que possamos colocar em questão as singularidades de experiências subjetivas que estão sujeitas a múltiplas formas de subordinação dentro da sociedade, constituindo uma contextualização indispensável na prática e na produção de conhecimento na área da profissão. Em vista dos argumentos apresentados, concluímos que essas duas lentes, decolonialidade e interseccionalidade, ajudam-nos a visibilizar os diagramas coloniais que operam nas lógicas de dominação e exclusão, questionando as bases do campo e dando destaque à importância de uma Psicologia insurgente, que se situa no tempo, contexto e história, parcializada e comprometida com a luta pela justiça social e pelos direitos (de todos os) humanos. Obviamente, sem deixar de fazer uma crítica aos marcos de reconhecimento a quem se enquadra essa humanidade, portanto, ampliando essa noção. Ao unir essa perspectiva com a interseccionalidade, tomando-a como lente sensível teórica, ética e política, torna-se possível colocarmos as hierarquias de poder e estruturas sociais que as sustentam no centro do debate, desestruturando-as e fortalecendo, assim, pautas raciais, de classe, de gênero, dentre outras. Interpelar essa ciência é tornar ela mais equânime, crítica e sensível para as alteridades, é problematizar a política de subjetividade que tem contribuído para formulação de tecnologias mortíferas que assaltam perspectivas de futuro de adolescentes, jovens, negros, mulheres, indígenas, LGBTI+ e tantos outros corpos que tem suas vidas subalternizadas e colocadas à mercê da morte. Revisitar a Psicologia e sua história enquanto ciência e profissão no Brasil permitiu-nos problematizá-la enquanto tecnologia de saber e poder. Sendo assim, evocamos uma Psicologia Social insubmissa, a qual parte da margem para reformular o centro, e desestabiliza o centro para romper suas estruturas de poder. Acreditamos que esse é o caminho para uma nova práxis social e insurgente.
Palavras-chave: Interseccionalidade; Decolonialidade; Psicologia.