Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Pessoas em Situação de Rua em São Paulo, SP, e a dialética do viver nas ruas
Nilson de Jesus Oliveira Leite Júnior. Universidade de São Paulo (USP)
Resumo: Introdução: o fenômeno de pessoas em situação de rua (PSR) expressa a faceta mais perversa e manifesta do empobrecimento na sociedade capitalista. Em São Paulo, SP, pode-se observar o aumento exponencial de PSR, em termos absolutos e percentuais, nos mais diversos espaços da cidade. Este trabalho insere-se no GT 11, Pessoas em situação de rua: direitos humanos, resistências e lutas, por se ocupar da dialética do viver nas ruas. Objetivo: refletir sobre o fenômeno de PSR e a dialética do viver nas ruas, e apresentar um projeto de pesquisa a ser desenvolvido em um Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social de São Paulo, SP. Orientação teórica: parte-se de uma leitura do fenômeno baseada no materialismo histórico-dialético, perspectiva na qual os fenômenos são compreendidos em sua relação com a totalidade concreta. Este estudo ancora-se, também, nos aportes teóricos de Verônica Morais Ximenes, José Moura Gonçalves Filho e Bader Sawaia acerca dos processos de humilhação e vergonha, humilhação social e sofrimento ético-político, respectivamente. Método: estudo qualitativo-reflexivo a partir de análises em parte da literatura acadêmica especializada sobre PSR e do Relatório da Pesquisa Censitária da População em Situação de Rua de São Paulo 2021. Resultados: os dados do censo contabilizaram 31.884 PSR, um aumento de cerca de 25% em relação ao censo de 2019 (25.398 pessoas). A literatura visitada aponta a existência de uma condição de invisibilidade que marca os corpos desse grupo populacional, além de constantes violências, violações de direitos, preconceitos e estigmatização em suas trajetórias pelas ruas que, sob uma ótica psicossocial, podem acarretar em sentimentos de vergonha, humilhação social e sofrimento ético-político. Destaca-se, que a literatura também indica o viver nas ruas como um espaço de potencialidades e de (re)configuração de novas formas de apoio e suporte social, vínculos sociais e comunitários, e de estratégias de sobrevivência. Tendo em vista estes achados, vislumbra-se na pesquisa de mestrado dos autores deste trabalho, a partir de uma pesquisa participante, conhecer a compreensão de PSR de São Paulo sobre a sua própria condição de estar e viver nas ruas, e a relação com a Política de Assistência Social. Por meio da dialética do viver nas ruas, parte-se de indagações que investigarão se nas trajetórias de rualização dos participantes há a presença de experiências de vergonha, humilhação social e sofrimento ético-político. Outrossim, também nos interessa investigar se há a formação de novos vínculos de sociabilidade após a ida para as ruas, e como a rede socioassistencial governamental e não-governamental é percebida e se insere em suas trajetórias individuais. Conclusões: frente ao aumento do número de pessoas em situação de rua e das várias formas que esta condição atravessa os corpos, torna-se relevante trazer o debate para o campo da Psicologia.
Palavras-chave: Pessoas em Situação de Rua; Sofrimento Ético-Político; Vergonha; Humilhação Social.