Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Psicologia da saúde no contexto rural: um relato de experiências de estágio
Maria Luiza Rodrigues Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (FACISA/UFRN)
Fernanda Fernandes Gurgel
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (FACISA/UFRN)
Resumo: Esse trabalho apresenta a prática realizada por uma discente do quinto ano do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As atividades fizeram parte do Estágio curricular obrigatório, que é direcionado à formação do/a Psicólogo/a por meio da vivência do cotidiano de atuação profissional. As práticas de estágio ocorreram no município de São José do Seridó, situado no interior do estado do Rio Grande do Norte. As ações foram desenvolvidas com a equipe de Estratégia de Saúde da Família II (ESF II) da cidade. Equipe que atende bairros da zona urbana e cerca de treze comunidades rurais. Os principais objetivos do estágio foram o aprendizado de conhecimentos técnicos da Psicologia da saúde no contexto comunitário rural, o desenvolvimento de pensamento crítico acerca das potencialidades e obstáculos do campo, bem como a construção de uma proposta de intervenção coerente, considerando as características do território e as demandas produzidas pelas especificidades dos modos de vida das comunidades rurais. Através do acompanhamento da rotina de trabalho da equipe de saúde, foram feitas visitas domiciliares, ações de educação em saúde em sala de espera, consultas compartilhadas de puericultura, participação em momentos de vacinação itinerante nas comunidades e conversas com moradores dos locais visitados. No decorrer dessas vivências foi possível visualizar alguns traços do modelo de saúde que chega às ruralidades. Incluindo práticas que caminham em direção à garantia de direitos, assim como manejos que, por outro lado, ainda reproduzem visões hegemônicas que aprofundam as desigualdades. A equipe da ESF II se desloca para atendimentos em duas comunidades rurais quinzenalmente. Essa mobilidade permite que os serviços se aproximem fisicamente dos usuários, além de estreitar a familiaridade dos profissionais com os locais. No entanto, os atendimentos que chegam até as comunidades são reduzidos, limitados pela quantidade de fichas e restritos aos serviços da Enfermagem, Medicina e Odontologia. Outras especialidades se mantém centralizadas na unidade urbana. Ainda foi possível observar a ausência de elementos das particularidades rurais nos discursos dos profissionais, que refletia também em práticas generalizadas, semelhantes a como ocorrem nos atendimentos urbanos. A respeito disso, a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e das Florestas – PNSIPCF (2011) destaca que os modos de vida atravessados por relações intimas com a terra, junto com as condições sociais e históricas que esses espaços herdam, produzem especificidades. Essa conjuntura tem reflexos no trabalho, nas relações familiares, nas questões de gênero, no acesso aos direitos e políticas públicas. Em razão disso, o trabalho em saúde com as populações do campo deve ser territorializado, alinhado com as atividades produtivas desenvolvidas pelos usuários desses espaços, comprometido com o saber popular e implicado com o encurtamento das distâncias concretas e simbólicas para o acesso à saúde. Essa experiência de estágio ensejou o desenvolvimento de habilidades importantes para a formação profissional em Psicologia. Por meio do contato direto com as pessoas e seus lugares, os conhecimentos técnicos ganharam um desenho real, concreto. O contraste entre o plano de atividades e as atividades efetivamente realizadas refletiu o factual cotidiano profissional. A teoria não atinge a totalidade das condições concretas. A realidade dita sua organização própria e, assim, oferece pistas do formato que o trabalho pode ter. Considerando as demandas apresentadas pelos usuários e profissionais, foi construído um programa de intervenção em saúde mental. A proposta é utilizar os espaços das principais campanhas de saúde a partir do Setembro Amarelo, Outubro Rosa e Novembro Azul para construir o projeto. Essas campanhas recebem financiamentos do poder municipal e maior visibilidade e aderência entre os usuários. Com objetivos a longo prazo, seria um vetor de educação e prevenção em Saúde Mental, abordando diferentes atravessamentos, como gênero, juventude e trabalho. Além estimular a inserção do debate no calendário de saúde de forma constante ao longo do ano.
Palavras-chave: Saúde das populações do campo; ruralidades; saúde mental.