Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
O desinvestimento na educação e ciência: tempos de pós-graduação com cortes e congelamento de reajustes de bolsas
Laisse Rafaela Arruda - UFPE.
Paulo Roberto Pereira da Silva Filho - UFPE.
Wanderson Vilton Nunes da Silva - UFPE
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar os desmontes atuais da pós-graduação no país, a partir da experiência discente em um estado do nordeste do país, considerando nossas experiências desde o início da pandemia e dos desmontes antidemocráticos do atual desgoverno. Para alcançarmos o objetivo deste trabalho utilizamos como recurso metodológico a construção de narrativas, a partir de relatos vivenciados nos últimos anos por nós e também pela análise de discursos e narrativas divulgadas pelas mídias sobre a situação da pós-graduação no país entre os anos de 2019 e 2021. Este trabalho se configura a partir de uma perspectiva da psicologia social relacionada aos estudos de narrativas e da experiência em uma inspiração foucaultiana, atrelada a autoras como bell hooks, Audre Lord e Glória Anzaldua, pensadas através da construção que articula ciência às diversidades de gênero e raça. Nossas análises situam-se pela construção de narrativas críticas que nos permitam enfrentamento e construção coletiva de luta política neste momento de crise democrática do país, considerando o adágio de Ailton Krenak e de Conceição Evaristo, para quem as narrativas atribuem sentidos às nossas lutas, mas também possibilitam ressignificá-la. Deste modo, a estruturação da pós graduação no Brasil, iniciou-se em 1931 com o Estatuto das Universidades Brasileiras. A universidade se organizava em catédras e as atividades de ensino, pesquisa e extensão, concentravam-se em um único docente, o que perdurou até a Reforma Universitária de 1968, quando foi instaurado o modelo departamental vigente. Os progressivos avanços foram interrompidos em 2016 após o golpe sofrido pela então Presidenta da República Dilma Rousseff – primeira mulher que ocupou o cargo em toda a história do Brasil – golpe misógino, patriarcal e neoliberal, evidenciado, também, quando os seus sucessores na presidência suscitaram uma política de cortes nas políticas públicas – educação, saúde, assistência social etc. – através do congelamento de investimentos públicos durante vinte anos, orientada pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, transformada na Emenda Constitucional 95/2016. No entanto, o atual DesPresidente da República aprova aumentos de recursos para as forças armadas do país: insumos ubuescos, que chegam a ser risíveis, destinados às forças militarizadas. Tudo isso em meio a uma das mais importantes crises sanitárias que o planeta enfrenta em sua história recente: a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19). Um dos cortes propostos pela Emenda Constitucional, anteriormente citada, diz respeito diretamente à educação, que chegou a ter cortes de, aproximadamente, 5 bilhões de reais para o ano de 2021, asfixiando cada vez mais o orçamento do Ministério da Educação (MEC). Isto desagua em vários setores do ensino público, dentre eles as universidades e o financiamento ao ensino superior, como por exemplo, vimos a diminuição de bolsas de pesquisa federais de pós-graduação (mestrado, doutorado, pós-doutorado) nessas instituições, como mostra uma manchete do Correio Braziliense, que põe em destaque “verba para a ciência e tecnologia” teve corte de 87% em 2021, caindo de 690 milhões de reais para apenas 89 milhões. Para além do que já foi colocado, as bolsas disponibilizadas aos discentes de mestrado e doutorado no país, pela principal agência de fomento, a CAPES, tem os seus valores de R$1500,00 (mestrandos) e 2200,00 (doutorandos) sem reajustes há nove anos. Esses valores devem ser considerados a partir de seu valor real de poder de compra, considerando os aumentos exorbitantes dos juros atualmente e, além disso, a exigência de dedicação exclusiva às atividades na pós-graduação, prejudicando a própria sobrevivência na atual conjuntura, considerando a defasagem das bolsas. Tudo isso faz com que muitos pesquisadores sem bolsas necessitem ter outros vínculos de trabalho, muitas vezes precarizados, para se manterem e subsidiarem suas pesquisas neste momento sombrio da história do nosso país, o que caracteriza uma ameaça à quantidade e qualidade das produções científicas no Brasil. Em nossa experiência, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os relatos de dificuldades financeiras de discentes e, consequentemente, emocionais, são comuns entre as/os discentes de pós-graduação, que encontram dificuldades em conciliar trabalho e suas atividades de pesquisa ou mesmo vivenciam o desemprego e a ausência de auxílio federal ao estudo, o que ameaça profundamente a qualidade de suas produções e até mesmo a possibilidade de conclusão de suas pesquisas. Em meio à maior crise da democracia, desde o golpe militar ocorrido em 1964, crise da educação e impactos da pandemia de COVID-19 que assola o país desde março de 2020, os alunos estiveram por cerca de cinco semestres longe dos espaços físicos da universidade o que favoreceu a desmobilização coletiva estudantil. A partir disto, destacamos como questões a compartilhar com o nosso Grupo de Trabalho: a problematização em relação ao desmonte de um sistema de ensino de excelência, as possibilidades de resistência coletiva e a discussão de vivências de pós-graduandos nessa conjuntura de desinvestimentos na educação e ciência, pilares fundamentais na superação de problemáticas estruturais do Brasil.
Palavras-chave: Desmonte; Pós-graduação; Experiência; Narrativas Críticas.