Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Teoria das Representações Sociais e racismo: um estudo de caso

Nicolas Domingues Dias (Universidade Federal de Pernambuco)

Jorge Luiz Cardoso Lyra-da-Fonseca (Universidade Federal de Pernambuco)

Patricia Vitória Bezerra Caetano (Universidade Federal de Pernambuco)

Resumo: O presente trabalho se propõe a abordar o racismo no Brasil à luz da Teoria das Representações Sociais. Primeiramente, o principal intuito foi o de compreender o que de fato viria a ser uma representação social e quais seriam as suas contribuições para a compreensão da problemática “racismo” no Brasil, em especial, o Brasil que passava pela pandemia de COVID-19 no ano de 2020. Para tal, inicialmente foi realizada a leitura do texto “A Teoria das Representações Sociais (Santos & Almeida 2005), com o intuito de compreender o que é a Teoria das Representações Sociais, como ela se desenvolve e quais as suas implicações no contexto social vigente. O texto explicita que as representações sociais são teorias do senso comum (Moscovici, 1988 como citado em Santos & Almeida 2005, p. 20), e tem por objetivo final dar significado ao que era antes desconhecido, sendo uma visão funcional do mundo, que, segundo Abric (1994, p. 13) “irá permitir ao indivíduo ou grupo dar um sentido a suas condutas e compreender a realidade através de seu próprio sistema de referência, definindo e adaptando o seu lugar nessa realidade. As autoras também afirmam que é importante, como parte das dinâmicas dos processos psicossociais, que tenhamos esse significado pré-estabelecido, já que, considerando que os sujeitos buscam estar em consenso com o seu grupo e que as situações irão orientá-los a estimar, comunicar e responder as mesmas, para evitar pressões, os indivíduos tendem a ter definições pré-estabelecidas a serem pressionados (Moscovici, 1988 como citado em Santos & Almeida 2005, p. 28). No entanto, para além da esfera cognitiva supracitada, Jodelet (1989, p.36) nos lembra da importância de estudarmos as representações sociais articulando elementos afetivos, mentais e sociais, além de integrar, ao lado da cognição, linguagem e comunicação, as relações sociais que afetam essas representações sociais e a realidade material, social e ideal sobre as quais estas vão intervir. Outros pontos de destaque das funções das representações sociais são os de produzir identidades, dar sentido à realidade social, orientar condutas e organizar as comunicações, segundo Santos & Almeida (2005, p. 22). Após uma compreensão ampla sobre a Teoria, foi realizada uma pesquisa sobre notícias de casos de racismo no Brasil entre março e julho  2020, período inicial da pandemia de COVID-19, e foi encontrada uma notícia sobre um motoqueiro negro que foi vítima de racismo por um cliente branco, aquele estando no exercício de sua ocupação. O caso ocorreu na cidade de Valinhos, interior de São Paulo, em que o agressor proferiu diversas ofensas ao motoqueiro, tais como “você não tem nem onde morar”, “seu futuro é de desempregado” e “você tem inveja disso aqui”, enquanto apontava para sua pele branca. Este fato transparece a branquitude, sendo esta caracterizada como um traço identitário marcado por diversos privilégios construídos através da opressão de outros grupos (Ribeiro, 2019), e neste caso, de um grupo historicamente oprimido: os negros. A postura adotada e os comentários proferidos pelo homem branco, que em nenhum momento recuou ou demonstrou arrependimento deixam evidentes, de maneira explícita, o racismo existente em nossa sociedade e como um membro do grupo hegemônico se vê no direito de exercer uma relação de superioridade com um indivíduo do grupo visto como subalterno. Vale ressaltar que estudos clássicos sobre o racismo provaram que grupos dominantes avaliam positivamente os membros de seu grupo e negativamente os membros dos outros grupos (Tajfel, 1978, 1982, como citado em Pereira et al. 2003) e, além disso, se utilizam de teorias de senso comum para diferenciar o negro (historicamente representado como inferior) do branco (historicamente representado como superior). Essa lógica reforça a Teoria das Representações Sociais, já que é em busca do consenso com o nosso grupo que surgem as diferenças inter e intra grupais, já que os universos consensuais não são homogêneos (Moscovici, 2003, como citado em Santos & Almeida, 2005), e faz com que ainda ocorram, em pleno século XXI, casos em que um motoqueiro é humilhado e sofre preconceito por conta do seu pertencimento étnico-racial e por não obedecer às ordens de um homem branco. A experiência de realizar tal pesquisa proporcionou aprendizados sobre uma temática extremamente pertinente nos estudos sociais, o racismo, além de contribuir na compreensão de uma teoria que auxilia o entendimento não só do racismo, mas de outros fenômenos sociais que podem e devem ser estudados pela Psicologia. 

REFERÊNCIAS

Pereira, C., Torres, A. R. R., & Almeida, S. T. (2003). Um estudo do preconceito na perspectiva das representações sociais: análise da influência de um discurso justificador da discriminação no preconceito racial. Psicologia: reflexão e crítica, 16(1), 95-107.

Ribeiro, D. (2019). Pequeno manual antirracista. Companhia das Letras.

Santos, M. D. F. D. S., & ALMEIDA, L. M. D. (2005). Diálogos com a teoria das representações sociais. A teoria das representações sociais, 118-159.


Palavras-chave: Racismo; Representação Social

Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO