Resumo: Este Relato, destina-se ao compartilhamento das experiências vivenciadas com a criação do Coletivo de Residentes João de Barro, nos anos de 2018 e 2019, na cidade de Vitória de Santo Antão, localizada na Mata Setentrional no estado de Pernambuco. Organizado por um grupo de Residentes do Programa de Residência Multiprofissional de Interiorização da Atenção à Saúde (PRMIAS) da Universidade Federal de Pernambuco no Centro Acadêmico de Vitória (UFPE-CAV), com o objetivo de criar um espaço de discussão dos diversos temas que atravessam a formação, assim como criar estratégias de fortalecimento da atuação da/o Residente em seus contextos de atuação. As reuniões aconteciam semanalmente nas dependências do Campus Vitória, onde inicialmente tivemos alguns obstáculos quanto a carga horária destinada para o coletivo, que após acordos do grupo com a coordenação do programa de residência e, visto a importância do movimento, obtivemos nosso espaço garantido dentro da carga horária semanal de atividades. No início da reunião sempre era lido a ata da reunião anterior, e dada as respostas aos encaminhamentos anteriores, seguindo, as discussões eram realizadas por meio de inscrição, onde cada pessoa expunha suas demandas, formando um debate sobre o tema podendo ou não gerar encaminhamentos que eram levados a gestão municipal ou coordenação do programa de acordo com o grau de exigência. No nosso primeiro ano, em 2018, como atividade mobilizadora, construímos o I Encontro de Interiorização de Residentes, onde pautamos os retrocessos e ameaças à democracia que estávamos vivenciando desde o Golpe de 2016 e, mais fortemente no ao eleitoral. Debatemos sobre formas de resistência enquanto trabalhadores/as do SUS e de mobilizações dentro da academia e nas comunidades que estávamos atuando. Em 2019, tivemos o II Encontro de Interiorização de Residentes, que teve como tema “Apesar de você amanhã há se ser outro dia”, contamos com o apoio de outros programas de residência do estado e esse segundo encontro teve uma proporção maior de divulgação e integração de outro movimentos sociais. Durante o evento, tivemos a participação ativa de usuárias e usuários do SUS da cidade de Vitória de Santo Antão, onde puderam compartilhar suas experiências com os serviços de saúde e pautar potências e fragilidades dos mesmos. Por fim, construímos de forma coletiva uma carta-manifesto em defesa do SUS, da democracia e de melhores condições de trabalho para os/as Residentes. É importante enfatizar o compromisso social (BOCK, 1999) que a organização deste coletivo nos impulsionou a assumir. Para além de debatermos problemáticas quanto à nossa formação e retrocessos nas políticas de saúde, dentro da academia, problematizamos como esses assuntos estavam ou não chegando nas comunidades e, com isso, assumimos o compromisso de facilitar esse acesso, de forma didática, promovendo processos de conscientização e emancipação dos sujeitos, tão importantes para o fazer de uma Psicologia Social (MARTÍN-BARÓ, 1996). Nos integrarmos enquanto coletivo, nos trouxe a clareza sobre o quanto precisamos estar organizados/as para pautar direitos, sejam eles de classe, raça, gênero, ou qualquer outro que seja importante de ser assumido enquanto problemática social. A exemplo de tantos movimentos importantes, como a Reforma Sanitária e a Reforma Psiquiátrica, vemos o quanto a organização enquanto povo, pode mobilizar estruturas e ser revolucionária.

REFERÊNCIAS

BOCK, Ana Mercês Bahia. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social. Rev Estudos de Psicologia. 4(2), 315-329, 1999.

MARTÍN-BARÓ, Ignácio. O papel do Psicólogo. Rev Estudos de Psicologia. 2(1), 7-27, 1996."

Palavras-chave: Coletivo; Movimento Social; Residência em Saúde.