Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Visibilidades e invisibilidades no processo da Formação em Psicologia no Interior de Alagoas

Cássia de Castro Bezerra

Universidade Federal de Alagoas-UFAL

Resumo: Esta comunicação é um recorte de uma pesquisa de doutorado que buscou refletir sobre a Formação em Psicologia a partir do projeto de interiorização e expansão das Universidades Públicas no Brasil. Parte-se do entendimento que a expansão das Instituições de Ensino Superior públicas localizadas em cidades brasileiras de pequeno e médio porte em diferentes regiões do país, principalmente na região nordeste, é um fenômeno recente que tem produzido mudanças na profissão, tanto a nível teórico quanto metodológico. Compreende-se, ainda, que parte destas transformações estão relacionadas ao novo contexto de formação, que difere do contexto original em que os saberes e práticas da Psicologia foram tradicionalmente engendrados. Diante desse horizonte, foi realizado um estudo orientado pelo referencial teórico da Psicologia Histórico-Cultural que identificou desafios da formação do psicólogo no interior de Alagoas através de rodas de conversa com docentes e discentes. Através da livre circulação da palavra, o recurso da roda de conversa teceu diálogos e partilhas que geraram reflexões, concordâncias, discordâncias e negociações, as quais possibilitaram ampliar concepções e coproduzir sentidos. Neste caminho, a interiorização universitária enquanto política pública vem se constituindo um dispositivo potente de inclusão educacional e socioespacial para uma parcela da população brasileira, excluída historicamente, do acesso à educação superior pública, gratuita e de qualidade. Desse modo, a interiorização, como uma oportunidade de democratização de acesso ao ensino superior público, propiciou a abertura de possibilidades de jovens trilharem novos caminhos em um contexto diferente daquele, até então, percorrido pelas famílias das camadas populares mais próximas dos contextos rurais, que tem o trabalho em atividades agrícolas e comerciais como centrais em suas vidas. Com efeito, a expansão das universidades públicas tem sido um marco histórico importante no enfrentamento da superação da desigualdade social e educacional no país, uma vez que vêm conseguindo garantir a inserção no ambiente universitário de um público economicamente e socialmente diferenciado. Entretanto, neste percurso alguns processos relacionados a forma como a oportunidade de acesso ao ensino superior tem chegado ao agreste alagoano têm sido enunciados pelos atores que compõe e constroem este cenário, mostrando os limites e contradições do projeto de interiorização em Alagoas, considerado, por um lado uma oportunidade relevante no processo de materialização da política de democratização à educação superior, porém envolta em muitas dificuldades, fragilidades e lutas. Um dos pontos controversos é que mesmo compreendendo que o deslocamento da Universidade para o interior tem contribuído diretamente para o ingresso de muitos jovens no ensino superior público, este processo tem ocorrido sob as marcas de diversas precariedades estruturais, com a escassez de recursos físicos e humanos e parcos investimentos na assistência estudantil. Assim sendo, a universidade federal em Alagoas chegou ao interior sem nenhuma estrutura física para acolher as inúmeras demandas próprias do trabalho em uma instituição universitária. Nesta direção, o contexto da formação em Psicologia no interior alagoano tem sido marcado por histórias de lutas, reivindicações e resistência diária, considerando que as condições para esta continuam sendo desfavoráveis em vários campos da vida universitária, desde o ensino, a pesquisa, a extensão, a gestão, passando ainda pela assistência estudantil, pelas condições estruturais e de mobilidade dos estudantes. Diante desses limites, compreendemos que a formação interiorizada em Alagoas tem sido desenvolvida a partir de recursos restritos, marcada pelos contornos da precarização desde seu início. Ao tempo que determinados aspectos deste processo foram considerados visíveis, evidentes no discurso do grupo investigado, compactuando com outros estudos que enfocam o tema da interiorização, outros elementos foram considerados sutis, sendo por vezes, pouco discutidos e evidenciados, e por isso invisibilizados na conjuntura da concretização da expansão/interiorização no contexto alagoano. É possível identificar que universidade no interior não ocupa o mesmo lugar de visibilidade e importância que a instituição localizada na capital do estado, provocando a emergência dos seguintes aspectos: a “inexistência” formal da cobrança pela produtividade acadêmica, aspecto intrínseco ao ambiente universitário; a dificuldade de acesso e participação de docentes e discentes em programas de pesquisa; as carências estruturais que geram impactos educacionais e simbólicos na formação, a exclusão do curso em debates importantes para o mesmo, dentre outros aspectos. Tomando o recorte dos elementos aqui apresentados, pretende-se com essa comunicação contribuir para a discussão, em âmbito nacional, da Formação do psicólogo e dos processos de interiorização da educação superior pública no Brasil, especialmente a formação realizada no interior do nordeste.


Palavras-chave: Expansão Universitária; Psicologia; Formação em Psicologia; Educação superior.

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