Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Amor preto cura: o aquilombamento de estudantes pretes como estratégia de permanência ao curso de psicologia

Ana Clara de Almeida Rocha (Universidade Federal de Alagoas);

Milena da Silva Medeiros (Universidade Federal de Alagoas);

Silvia Yasmin Bento Leite (Universidade Federal de Alagoas)

Resumo: Vivenciar a universidade em todas as suas possibilidades implica passar por experiências que interseccionam gênero, raça e classe. Nesse sentido, o presente estudo busca contemplar as problemáticas vividas por estudantes negros/as dentro de uma universidade do nordeste, através da construção e manutenção do grupo pretes psi do curso de psicologia da Universidade Federal de Alagoas, como estratégia para a permanência de estudantes negros/as na graduação. O conceito de Dororidade formado por Vilma Piedade (2019), pontua como corpos negros são postos à ausência, ao não lugar, às falas silenciadas, ao encontro entre os/as nossos/as através da dor. Por meio da observação de que estudantes negros/as não são visibilizados ao entrarem e permanecerem na universidade, e vivenciam diversos episódios violentos atrelados ao racismo e ao antirracismo cordial (MACIANE, 2022), formou-se então, o grupo pretes psi. Organizado de modo horizontal, e somado às discussões sobre vivências na graduação, o grupo realizou o seu primeiro encontro no dia 16 de maio de 2022 com o tema: “sararau amor preto cura - ajeum e dengo preto”, no qual foi possível reunir artes que retratam a valorização da negritude através de músicas, poemas, poesias e contos. Relacionando ainda o compartilhamento de experiências que proporcionaram o elo entre os/as estudantes que veem esse espaço como possível para as suas existências e aquilombamentos dentro da universidade. É através desses encontros que alunos/as do curso de psicologia buscam fomentar diálogos étnico-raciais, traçando estratégias para combater o racismo dentro da instituição. Configurando produções de narrativas e sentidos na universidade, o grupo pretes psi realizou cinco encontros, pautando-se sempre através da oralidade como resgate à nossa ancestralidade e traçando encaminhamentos que nos fortalecem e buscam o combate às violências estruturais; sejam através de indicações de leituras, denúncias de racismo que o grupo recebe, seja através do acolhimento aos/às nossos/as. O grupo configura-se através de temas com demanda espontânea, que envolvem as vivências de jovens negros/as na universidade e observa-se que há uma recorrência em temáticas como: a não compreensão de alguns professores/as com alunos/as que não possuem disponibilidade em tempo integral para a graduação, a existência de práticas psi que não integram corpos negros, falas que realizam a manutenção de discursos racistas e a presença de discentes fraudadores de cotas PPI dentro da instituição. Entre os encontros já realizados, destaca-se o momento com os/as calouros/as na semana da calourada da turma 2022.1 do curso de Psicologia. Nesse encontro, foi realizada uma roda de conversa e um ajeum com a turma e participantes do grupo, além do compartilhamento das experiências. Outro grande momento nessa troca, foi a presença de alunos/as negros/as egressos/as do curso, no qual foi dialogado sobre processos que envolveram o ser negros/as ao longo da formação. Por fim, houve a divulgação de referências negras que se mostraram importantes para o diálogo inicial às questões. Através dessa troca, foi possível romper com a prática muito presente de tematizar sobre raça, representação e racismo apenas em momentos pontuais da formação. Assim, buscamos sinalizar para a importância dessas discussões atravessarem todos os fazeres da graduação, e de termos contatos sobre questões raciais o quanto antes e em todos os espaços do curso. Uma vez que o Instituto de Psicologia assinou uma carta compromisso afirmando a contribuição e realização de atividades por uma psicologia antirracista após denúncias de discentes fraudadores de cotas, é necessário que haja o comprometimento do corpo estudantil, docente e técnico para a efetivação dessa carta que caminha a passos lentos. Tornando-se assim, responsáveis também pelo apoio, diálogo e criação de estratégias somadas ao grupo pretes psi, para a ampliação do diálogo e a reafirmação de uma psicologia atravessada pela ruptura de processos coloniais que nos cercam.


REFERÊNCIAS:

PIEDADE, Vilma. Dororidade. São Paulo: Editora Nós, 2019.

Maciane, Y. (2022). “Enegrecendo suas estantes” o modismo de acadêmicas(os) brancas(os) no movimento antirracista: experiência da formação em Psicologia na Universidade Federal de Alagoas..


Palavras-chave: Dororidade; Negritude; Permanência na universidade; Aquilombamento.

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