Minicursos


Listamos aqui os 3 minicursos ofertados pelo nosso Encontro. A inscrição nos minicurso é gratuita para inscrites no Encontro, mas as vagas são limitadas. Para se inscrever, acesse sua área de inscrito. A dinâmica de funcionamento dos minicursos pode ser vista abaixo.


1 - Como falar com crianças e jovens sobre raça e racismo: caminhos possíveis a partir da socialização étnico-racial. Proponente: Barbara Santana Ribeiro

2 - O capoeirista se deixa movimentar pela alma: psicologia, escrita de si e corporeidade afrobrasileira na descolonização do cuidado em saúde mental. Proponente: Luís Cláudio Nogueira Madeira.

3 - “Qual a onomatopeia de um encontro?”: Contação coletiva de histórias numa formação racista. Proponente: Manoel Nogueira Maia Neto.

Dinâmica de funcionamento dos Minicursos


1º) Dia 29/07 (uma semana antes do Encontro) será disponibilizado a inscrites no minicurso um vídeo de autoria de proponentes, com duração de no máximo uma hora (1hr). O vídeo será disponibilizado no youtube e disponibilizado o link a inscrites, que escolherão o dia e horário para assistir (atividade assíncrona). Ao final desse vídeo, será indicada proposta de trabalho que estimule a criatividade de participantes para executar a atividade.

2º) 2h de carga-horária para participantes executarem a tarefa indicada, de forma assíncrona. Essas atividades podem ser compartilhadas via drive a ser criado por proponente.

3º) Dia 05/08 em encontro síncrono, todes participantes do minicurso e proponente poderão interagir em encontro síncrono, de duração máxima de uma hora (1h). O horário exato desse encontro será estabelecido por proponente do minicurso e será divulgado na programação do evento, como também listamos abaixo:

MC 01 (Proponente: Manoel Nogueira Maia Neto.): das 17h40 às 18h40.

MC 02 (Proponente: Luís Cláudio Nogueira Madeira): das 16h40 às 17h40.

MC 03 (Proponente: Barbara Santana Ribeiro): das 15h às 16h.

Resumos dos Minicursos

Como falar com crianças e jovens sobre raça e racismo: caminhos possíveis a partir da socialização étnico-racial. Proponente: Barbara Santana Ribeiro

Existe um processo pelo qual os indivíduos recebem mensagens sobre raça e etnia, vindas de diferentes agentes, as quais dá-se o nome de socialização étnico-racial. Tais mensagens podem assumir diferentes formatos, sendo verbais ou não, também podem culminar em resultados positivos ou negativos, que influenciam aspectos importantes da formação dos sujeitos, tais como identidade social, autoconceito, e autoestima. No núcleo familiar, os sujeitos constroem os primeiros aprendizados sobre raça e etnia, mas, ao longo do processo de desenvolvimento, passam por outras agências socializadoras, sendo a escola uma das mais importantes, já que nela são passados conhecimentos formais e também são construídas relações entre pares e com figuras de autoridade. Além do seu papel educador, a escola é um dos primeiros ambientes de socialização do indivíduo, atuando como mediadora principal das influências socioculturais, como os valores, as crenças e as ideologias. Ao pensar no papel da escola no processo de socialização étnico-racial, é importante mencionar as leis 10.639/03 e 11.645/08, que foram promulgadas com o objetivo de implementar na rede básica de educação o ensino da história africana, afro-brasileira e indígena. Estas leis reconhecem a dívida histórica do Brasil diante das minorias étnicas, bem como, questionam o modelo vigente de educação norteado por um ideal eurocêntrico de branqueamento que nega a diversidade étnica e cultural do seu povo, violentando e negando a possibilidade de uma educação que contribui para a construção saudável das identidades de seus jovens e crianças. A literatura tem demonstrado que especificas mensagens de socialização étnico-racial, por agentes escolares, como professores, podem servir para ajudar crianças e jovens minoritários, a exemplo de negros e indígenas, a construírem uma imagem positiva de si, fortalecendo suas identidades étnico-raciais e a aprenderem a entender e a lidar de forma mais efetiva com o racismo na sociedade, e servem como fatores protetivos do bem-estar psicológico, social e acadêmico dessas crianças e jovens. Para crianças e jovens de grupo majoritário, a exemplo dos brancos, específicas mensagens sobre raça e racismo podem servir para educá-los a, por exemplo, não reproduzirem o racismo e a se engajarem na sua desconstrução. Nesse sentido, mensagens de socialização étnico-racial podem servir para ajudar crianças e jovens a entenderem a sociedade racializada, a produzir bem-estar em suas relações intergrupais e para contribuir, de forma positiva, no desenvolvimento infanto-juvenil, livre dos efeitos tóxicos e nocivos do racismo. Este minicurso visa apresentar algumas contribuições da teoria da socialização étnico-racial, expondo algumas formas sobre como, porque e quando falar com crianças e jovens sobre raça e racismo. Visamos discutir possibilidades de conversas com esse público no contexto da escola, lugar onde as crianças e os jovens passam a maior parte de suas vidas e onde também se deparam com inúmeras situações de racismo, preconceito e discriminação. O minicurso será dividido em três momentos, intercalando atividades síncronas e assíncronas. De início, os proponentes disponibilizarão um vídeo introdutório, apresentando a teoria da socialização, as principais mensagens e o que já se tem a nível de conhecimento empírico acerca das consequências dos diferentes tipos de mensagens. Ao final do vídeo, será lançada a seguinte proposta de atividade: os(as) participantes serão convidados a pensar, caso estivessem inserido no contexto escolar ou na posição de formulador(a) de políticas públicas voltadas para a luta antirracista na escola, como elaborariam atividades que possibilitem passar para crianças e jovens mensagens de socialização étnico-racial, pensando nos tipos de mensagens mais apropriados, suas possíveis consequências (positivas ou negativas) e como manejá-las. Por fim, será realizado o encontro síncrono, no qual as atividades realizadas serão compartilhadas em relatos orais e discutidas à luz da teoria da socialização.


O capoeirista se deixa movimentar pela alma: psicologia, escrita de si e corporeidade afrobrasileira na descolonização do cuidado em saúde mental. Proponente: Luís Cláudio Nogueira Madeira.

Esse minicurso tem o objetivo de possibilitar vivências a partir de atividades artístico-culturais. Será apresentada a capoeira como saber/fazer afrodiaspórico que permite o encontro com conceitos e dinâmicas filosófico-corporais promotores de ressignificação. O minicurso terá três etapas: uma teórica, outra, de vivência corporal, e por fim, um exercício de escrita de si. Será apresentada a capoeira, sua história e seus principais conceitos, em seguida serão sugeridos movimentos corporais e por fim, será indicada a escrita de uma redação em que o escritor/aluno narrará de maneira breve sua história de vida, atento aos conceitos/movimentos aprendidos a partir dos recursos da capoeira. Existem produções acadêmicas que relatam experiências transformadoras quando psicólogos/as capoeiristas propõem intervenções em promoção de saúde, sobretudo nos CAPS. O presente trabalho está fundamentado nesses trabalhos acadêmicos, bem como no próprio referencial teórico dos estudos afrocentrados e de capoeira. A vivência do proponente como professor de capoeira e psicólogo habilita a sugestão do presente estudo. Inicio a contextualização por saudar os mais velhos, citando Mestre Pastinha, “Vicente Ferreira Pastinha” (1889 – 1981), que é um dos mais reconhecidos mestres de capoeira da tradição. É dele a frase “o capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo, e sim aquele que se deixa movimentar pela alma”. Nesse trabalho a frase é retomada na perspectiva de valorizar um olhar descolonial sobre o corpo. O corpo do capoeirista, na perspectiva afrocentrada, é um corpo que ginga e que se movimenta. Difere radicalmente do corpo-máquina: dicotomia racionalista de origem europeia que concebe o corpo como mecanismo a ser manipulado por uma essência intelectual. Para os valores africanos o jogo de capoeira possui encantamento, no sentido da expressão corporal criativa no ato mágico do "jogo de Angola". O capoeirista sorri com as pernas, brinca com a cintura, gargalha com as piruetas e floreios. Nos valores civilizatórios africanos, tal qual nos elucida a prof.ª Azoilda Trindade, o corpo é um lugar do ser. O africano, desterrado, contra a sua vontade, pelo flagelo da escravidão, veio ao Brasil provido exclusivamente de seu corpo, e nele estava viva sua cultura e sua alma. A capoeira pode ser definida como uma arte marcial especial, à medida que se constitui metodologicamente a partir do tripé indissociável jogo/luta/dança. Nela, ao invés do contato físico traumático (socos, chutes, etc), sugere-se diálogos corporais em dupla, em que os golpes são sugeridos, quase sempre sem que os contendores se toquem. Nesse minicurso, serão estudados quatro de seus principais conceitos/movimentos. Dentre as muitas possibilidades, destacou-se a “ginga”, o “rolê”, o “aú” e a “volta-ao-mundo’. Cada um desses movimentos pode ser compreendido na dinâmica da relação encantada existente entre o macrocosmo da grande roda, e o microcosmo da pequena roda, isto é, o diálogo corporal executado na roda de capoeira (a pequena roda), é, ao mesmo tempo, uma vivência transformadora da subjetividade do jogador, e, por outro lado, uma metáfora dos acontecimentos da vida cotidiana (a grande roda). Nesse sentido, a “ginga” pode ser caracterizada como o balanço corporal básico do jogador de capoeira. O verdadeiro capoeirista nunca para de gingar e está sempre em movimento. Como metáfora, compreendemos a dinamicidade das forças psíquicas em constante movimento de atualização com as transformações e crises da realidade. Já o “rolê”, pode ser descrito como um movimento onde o jogador se desloca de um ponto “a” a um ponto “b”, lateralmente, fazendo um giro de 360.º junto ao chão, “por baixo”. Como paralelo, é possível dizer que o rolê significa uma mudança de “lado”, da esquerda para a direita, e vice-versa. Sugere possibilidade de perceber os lados de um jogo, de se colocar no lugar do outro, sem parar de jogar. “Dar um rolê” também pode ser entendido como sair de uma situação difícil. O “aú”, ou movimento da “estrelinha”, também sugere um giro de 360.º, porém, dessa vez, pelo alto, em que por um instante pode-se perceber “o mundo de cabeça para baixo”. O aú simboliza uma radical mudança de ponto de vista, em que se propõe a subversão completa da lógica entre os que dialogam. Por fim, a volta-ao-mundo consiste no movimento de parar de jogar e caminhar ao redor da roda de capoeira, por dentro dela, em sentido anti-horário. A volta-ao-mundo é realizada quando o jogo está impossibilitado de fluir, seja pelo cansaço de um dos jogadores, seja por este ter sido dominado por um jogador superior. É uma pausa no tempo. É um caminhar em sentido anti-horário, buscando o passado, o retorno ao ancestral, ao momento e a oportunidade de recomeçar a partir dos conhecimentos já elaborados. Por fim, espera-se que o exercício de escrever sua própria história de vida, provocado pelos movimentos e transformações vivenciados, pode consolidar a aprendizagem no sentido de implicar o sujeito de maneira pessoal na vivência, a fim de tornar a ação mais que uma atividade meramente formal/didática.


“Qual a onomatopeia de um encontro?”: Contação coletiva de histórias numa formação racista. Proponente: Manoel Nogueira Maia Neto.

Escrevendo a monografia, não escondi o cansaço. O objetivo era de dar uma virada no que seria “produção científica”. Eu discorria sobre a formação acadêmica, ética no ensino, epistemologia, não sobre a/o que estava fora da universidade, o/a outro/a, àquele/a. A partir da minha experiência e, principalmente, pelas referências de textos, produções visuais, músicas entre outros materiais, construí o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) como um “retrato” do que eu não (me) via, nem percebia na formação formal. A aconteceu a defesa, depois a pandemia chegou e, inesperadamente, meses após tudo isso recebi um e-mail de uma psicóloga negra: "Manoel, os agradecimentos e a apresentação do seu TCC foi uma das coisas mais belas que eu já li na minha vida. Eu precisei caçar o seu e-mail para lhe dizer isso. Eu não te conheço, você não me conhece, mas te lendo eu pude te sentir profundamente em meu coração. Eu me arrepiei muitas e muitas vezes; será que você sentiu?". Uma breve troca de e-mails, que pareciam cartas, aconteceu. Os racismos atravessam as histórias de sujeitos construindo um campo do comum sob diversos temas, como relação (de poder desproporcional) com docentes; as conjugações entre identidade e pertencimento grupal; variadas violências institucionais. Partindo disto, os objetivos deste minicurso partem de possibilitar des-re-organização da experiência vivida e/ou memória da trajetória individual e coletiva de pessoas negras na universidade, nisso, mais especificamente, do reconhecimento dos enraizamentos dos racismos para negras/os universitárias/os e da constante disputa de legitimidade onto-epistemológica na acadêmica. Para além da fundamentação de se viver em um "país anti-negro", outro embasamento é o teórico a partir de estudos raciais sobre epistemicídio e branquitude, como os de Lucas Veiga, em "Descolonizando a Psicologia: notas para uma Psicologia Preta", e de Iray Carone e Maria Aparecida Bento, em "Psicologia Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil". Considerando os objetivos que se guiam para o reconhecimento e fortalecimento das trajetórias comuns, este minicurso é voltado para participantes que se autodeclaram negra e são/foram universitárias/os (discentes e docentes). O percurso se dará em 1) em vídeo, apresentação da proposta do minicurso, da trajetória do facilitador em relação à temática e de questões-gatilhos, junto às instruções, para as/os participantes, apontando para o próximo momento; 2) de modo assincrônico, será pedido que quem participe construa sua narrativa acerca de suas experiência universitárias através do Historiodrama (que é desenho de uma linha com três marcos históricos e significativos sobre o assunto) e, após essa focalização inicial, da produção de conteúdo (por cartas escritas, e-mail, desenhos, vídeo ou qualquer outro meio que cada um/a se sinta confortável em construir); 3) em encontro sincrônico, haverá apresentação das/os participantes a partir de suas produções, compartilhamento de como se deu momento assincrônico e, se possível, construção comum de pistas antirracistas que podem ser promotoras de cuidados para pessoas negras universitárias. Enfim, este minicurso busca alcançar os objetivos citados e, juntamente, promover encontro efêmero e facilitador de exposição de possíveis estratégias antirracistas no campo da formação e atuação profissional em Psicologias.