Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

A luta antimanicomial vai à praça: propondo mobilização social em tempos de retrocessos

Lucas Matheus do Nascimento (Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central)

Emanoel Lucas Ribeiro (Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central)

Rafaela Tavares Bezerra de Almeida (Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central)

Kamila Karen Leite Nobre (Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central).

Resumo: Enquanto discentes no curso de Psicologia, estamos mergulhando em todas as experiências possíveis que nos são proporcionadas, haja visto que essa é uma forma de conhecer e perceber quais lutas precisam ser vistas e jamais esquecidas. Logo, participar dessas atividades compreendendo as histórias e batalhas pelas quais queremos insistir, é um aprendizado e encontro de novas possibilidades de enxergar uma psicologia cada vez mais social. Dentro dessas experiências ressaltamos nosso primeiro impacto com a luta antimanicomial retratada no período em que falávamos sobre Saúde Coletiva, Psicopatologia e Processos Cognitivos e que, indubitavelmente, é um debate que carece de ocupar todo e qualquer lugar. Vimos a partir da temática, enquanto estudantes que compõe o grupo de trabalho da ABRAPSO, sustentados no pilar do compromisso social, a oportunidade de realizar um encontro para discutirmos tal luta e os vários desafios que o campo da saúde mental vem enfrentando na atual conjuntura política do país. Realidade marcada pela desvalorização da RAPS e forte presença das Comunidades Terapêuticas, instituições com certo apelo religioso que ainda sustentam práticas violentas com quem necessita de assistência psicológica, o que escancara que a lógica por trás dos manicômios segue assustadoramente na sociedade brasileira, apesar da revolução nos modelos de tratamento ocorrida após a reforma psiquiátrica. Dessa forma, não poderíamos nos vendar diante de tamanha situação e esta foi a forma que encontramos de expor a nossa indignação, afirmar o nosso posicionamento e levar informação até os estudantes de outros períodos da Psicologia e demais cursos, que desconheciam o contexto sócio-histórico da luta antimanicomial e os atuais acontecimentos que impactam os usuários dos equipamentos de saúde mental e nosso campo de atuação. Nesse projeto, encontramos novos saberes durante todo o processo, pois envolveu uma base teórica e prática de um momento histórico que não deve ser revivido novamente. Dentro desse mundo, encontramos obras e artigos que falam sobre sanidade mental, reabilitação, hospitais e a medicalização da vida auxiliando a compreender esses contextos e como cabe ao psicólogo em formação olhar criticamente para cada situação que é apresentada. O evento ocorreu no dia 26 de maio, após a data que reafirma anualmente a luta antimanicomial, fruto da parceria entre o grupo de trabalho da ABRAPSO Salgueiro, docentes e coordenação do curso da Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central (FACHUSC). Apesar de inicialmente termos encontrado o período de chuvas como impedimento para a realização, conseguimos superar tal entrave adiando a data. Quando no evento os responsáveis pelo CAPS estiveram à frente para explicar seu funcionamento e suas experiências foi incrível, pois propiciou conhecer o equipamento e reconhecer que essa luta precisa ser sustentada. Em outro momento, convidou-se um usuário do CAPS habilidoso com a flauta para apresentação e constatamos o quanto que com o tratamento correto pode-se realizar grandes feitos, além de nos lembrar especialmente do incentivo ao fazer artístico proposto pela esplendorosa Nise da Silveira. Em outro espaço, professores do curso puderam complementar com suas falas e nos aproximar da responsabilidade de compreender os sujeitos adoecidos, nos encorajando na luta pela melhoria dos equipamentos de saúde e construção de uma sociedade melhor para esses cidadãos. Reunir todas as turmas do curso de psicologia numa praça pública e falar sobre a luta antimanicomial, enquanto parte da população que transitava pelo local se aproximava para ouvir, só reforça o que já estava sendo compartilhado sobre batalhar pelos direitos das pessoas que estão em sofrimento mental, enfatizando que isolar não é a melhor nem única saída, que precisamos reconhecer humanamente, que temos direito à liberdade, dignidade e de receber o cuidado necessário, sem esquecer da pessoa que se é. Estar aberto a encarar essa lida, é bater de frente com o preconceito, a violação de direitos e negligências, e acima de tudo ajudar a impedir os retrocessos. O evento fortaleceu a imagem da psicologia social que o grupo da ABRAPSO e nossa instituição educacional deseja construir: uma psicologia comprometida socialmente, ambulante, que rompe com as gaiolas que enclausuram o conhecimento a academia e que encontra aqueles que também precisam ter acesso a essas pautas, atitude expressa nos olhares curiosos de todos os andantes da praça. Serviu igualmente para politizar os discentes sobre os aspectos sociais que abraçam a nossa psicologia. Certamente foi um momento histórico na nossa graduação e estarmos na posição de alunos, vivenciando projetos que falam e promovam uma saúde de qualidade, é empolgante e mobilizador para a reconstrução de novos diálogos e reeducação dos profissionais que trabalham na área da saúde, sobretudo, para promover modificações no seio social ainda que as condições políticas do nosso país caminhem em movimento contrário.


Palavras-chave: Luta Antimanicomial; Mobilização Social; Comunidades terapêuticas

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