Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Mulheres Campesinas, Práticas de Cuidado Coletivo e Plantas Medicinais
Saulo Luders Fernandes - da Universidade Federal de Alagoas
Karen Lauren Monteiro Silva - Universidade Federal de Alagoas, Campus Palmeira dos Índios
Edvaldo Ribeiro Brandão - Universidade Federal de Alagoas, Campus Palmeira dos Índios.
Carolina Ventura Cavalcante Barbosa - Universidade Federal de Alagoas, Campus Palmeira dos Índios
Resumo: A atividade de estágio em Psicologia foi realizada no assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Rendeiras/Dom Helder Câmara, localizado no município de Girau do Ponciano. A presente proposta se baseou e deu continuidade à extensão vinculado ao Programa de Educação Tutorial/Núcleo de Estudos do Semiárido Alagoano (PET-NESAL), denominada por “Clínica Psicossocial”, já realizada anteriormente nesse território. Inicialmente desenvolvemos encontros prévios com a liderança do assentamento, almejando o levantamento das demandas e pensar coletivamente as nossas possíveis ações. Nesses encontros a liderança trouxe a necessidade do trabalho com foco nas práticas agroecológicas, visto a importância dessa prática nos assentamentos do MST, devido a sua política de cuidado e bem-estar coletivo. Respeitando o período de pandemia houve a tentativa de realizar os encontros com a comunidade no formato virtual, tais encontros ocorreriam com a participação de um grupo de mulheres que já realizam as produções de cultivo e venda de alimentos saudáveis e também com mulheres que não possuem proximidade com a prática. Os encontros não tiveram êxito devido a dificuldade de acesso à internet da comunidade. Nos momentos seguintes, em que já era possível nos encontrarmos presencialmente, iniciamos os encontros em práticas de grupo com mulheres assentadas e seus quintais produtivos. As participantes relataram suas proximidades e distanciamentos com a produção agroecológica e compartilharam que nos quintais produtivos, no período da estiagem, florescem e resistem apenas as plantas medicinais. A partir das plantas medicinais e da proposta dos quintais produtivos realizamos encontros com as mulheres assentadas em seus quintais, varandas e espaços coletivos. Nos encontros seguintes as mulheres passaram a levar plantas que cultivavam em seus quintais e ocorreram compartilhamentos das histórias de cura que cada uma tinha com essas plantas, entre essas histórias surgiam relatos de cuidado umas com as outras, de desamparo do Estado em relação a saúde pública da comunidade e também foi enfatizado a importância desses encontros para resgatar e repassar práticas de cura essenciais para a comunidade. Nos encontros também foi levantado a importância das plantas e das práticas derivadas delas como a expressão das mulheres na convivência com o semiárido, bem como, das reexistências campesinas, que diante de tantas negligências e violações de direitos vividas cotidianamente buscam caminhos de continuidade à vida campesina, não apenas como sobrevivência, mas enquanto afirmação de um modo de viver libertário e em busca da soberania. O cuidar com as plantas não se restringe apenas ao ato de produzir a saúde, mas do cuidar e permitir que as vidas campesinas sigam seus caminhos no fortalecimento do corpo, da terra e do coletivo. As plantas produzem uma política do cuidado à vida nos assentamentos, elas são agentes de perpetuação e preservação do território. Estar com as plantas é viver uma política de afirmação do cuidado da terra e dos companheiros e companheiras que nela estão integrados. Há aqui um giro que desloca as lógicas antropocêntrica e desenvolvimentistas na emergência de outros atores do território na formação de uma ecologia política com outros seres e vidas. O estágio com mulheres assentadas do MST tem a potência de nos fazer pensar uma psicologia engajada e comprometida politicamente com as demandas das comunidades, além disso, a metodologia que dispomos para o desenvolvimento do estágio é uma prática viva da própria comunidade que produz saúde.
Palavras-chave: SAÚDE COLETIVA, AGROECOLOGIA, MULHERES CAMPESINAS, PLANTAS MEDICINAIS.