MINICURSOS
Os minicursos para o VIII Encontro Regional da Abrapso estão incríveis! Serão seis minicursos ofertados pelo nosso encontro. A inscrição é gratuita para os inscritos no Encontro, mas as vagas são limitadas! Para se inscrever basta acessar a Área do inscrito, através do site, clicar em “Inscrever-se em Atividade” e escolher uma opção de minicurso. É permitida apenas UMA inscrição.
O tema e descrição dos minicursos podem ser vistos abaixo.
Programação e carga horária
Os mini-cursos terão carga-horária de 7h. Eles ocorrerão de forma híbrida distribuídos ao longo do evento, conforme descrevemos a seguir:
• Dia 25/11 (Etapa presencial no local do evento):
- Primeira sessão das 9h às 12h30;
- Segunda sessão das 14h às 15h30.
• Dia 01/12 (Etapa virtual síncrona em plataforma online):
- Terceira sessão síncrona virtual das 14h às 15h30.
Minicurso 01: Aquilombamento como Processo de Tornar-se Negro
Bruno Vieira dos Santos (UFPE)
Gioconda de Sousa Silva Lima (UFPE)
RESUMO: Para além de um território físico ocupado por pessoas divergentes do regime escravocrata, uma organização política, social e cultural realizada pelos/as negros/as durante o período colonial como resistência à escravatura, o quilombo é uma estratégia política e ontológica para o empreendimento de resistências e enfrentamentos ao racismo, manifesto em diversas formas. Tecnologia que atravessa gerações, o processo de aquilombamento é baseado no acolhimento, no fortalecimento e na organização das coletividades negras com formas, mecanismos e ferramentas que se modificam com o tempo, mas cujo significado (de resistência à opressão) permanece. Essa tecnologia ancestral parece orientar, de maneira assertiva, as ações empreendidas pelas pessoas negras que se encontram interessadas em construir redes contemporâneas de sociabilidade, colaboração e organização promovendo um ambiente de afeto e resistência (RABELO, 2021; SOUTO, 2021). É nessa atmosfera de perspectiva aquilombada que acreditamos haver a construção de subjetividades positivadas por um processo de auto recuperação, que resumidamente é o ato de tornar-se sujeito em um movimento pessoal e coletivo no qual a pessoa oprimida sai do lugar de objetificação a partir de um discurso libertador (Hooks, 2019). Conectando-se com “os esforços de educar para uma consciência crítica, para criar resistência efetiva e significativa, para fazer a transformação revolucionária” (Hooks, 2019, p. 76), o aquilombamento seria o background ontológico, epistêmico e político que promove a consciência crítica coletiva do sujeito acerca da realidade, estimulando o empreendimento de ações que enfrentam as opressões. Observar o quilombo não apenas como um território físico, mas também cosmológico e sensível, permite que enxerguemos as diversas formas de retomada da história negra e recriação das potencialidades dessa população. Trata-se de compreender o processo ideológico que estruturou a psique negra e, de posse desse ‘awareness’, criar um novo entendimento de si e de grupo, revelando que “ser negro não é uma condição dada, a priori. [Mas] É um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro” (SOUZA, 1983, p. 77). Neste minicurso, propomos discutir o conceito de quilombo à luz dos dias atuais, perguntando-nos o que significa aquilombar-se hoje em dia. Visto que na história brasileira nunca houve um momento em que a população negra não tivesse que articular estratégias de sobrevivência e resistência, o aquilombamento atravessa o tempo e se converte de memória e instituição a metodologia de organização e tecnologia social em constante adaptação. Cruzando possibilidades teóricas, epistemológicas e metodológicas, este minicurso baseia-se numa tentativa de mostrar uma forma possível de se enfrentar o epistemicídio que nos mata desde a mente, causando os males psíquicos da loucura, da depressão, da autoestima baixa. E, também, entender como podemos dialogar com uma Psicologia comprometida com a construção de debates sobre a subjetividade da população negra e o enfrentamento ao racismo. Conteúdo programático: Introdução: informações sobre o minicurso e bibliografias possíveis Quilombo: uma tecnologia que atravessa o tempo (exposição teórica) Neste momento, faremos uma conversa sobre a formação dos quilombos no Brasil e como eles se constituíram numa efetiva estratégia de enfrentamento ao Colonialismo. Aqui também iremos visualizar o quilombo de maneira “atemporal”, como um processo que atravessa os tempos e se reatualiza conforme as eras. Trazemos Beatriz do Nascimento, Abdias do Nascimento, Clóvis Moura e outros autores/as para embasar o diálogo. Narrativas aquilombadas: auto recuperação em vista Neste momento, faremos uma conversa coletiva e apresentaremos algumas estratégias que podem ser consideradas de aquilombamento. Vamos compreender o que significa aquilombar-se hoje em dia (como o conceito se torna uma importante peça para a auto recuperação da pessoa negra). A proposta é debater menos o formato das ações e mais o subsídio ontológico que orienta tais ações, e listá-las de forma que possamos conhecê-las. Onde há, no Nordeste brasileiro, ações que podemos ler sob essa lente?
VAGAS: 20
Minicurso 02: Atravessamentos Psicossociais de Corpos LGBTQIAP pela Legitimação de suas Identidades no Atual Contexto Político Brasileiro
Profa. Ma. Maria Augusta Costa dos Santos (UFAL)
Eduardo Weslley Marcolino da Silva (UFAL)
Carolina Ventura Cavalcante Barbosa (UFAL)
RESUMO: As discussões acerca da diversidade sexual e identidades de gênero no Brasil vem sendo reforçada em diversos âmbitos sociais, a fim de que possa existir uma problematização em cima dos altos índices de violência enfrentada por corpos LGBTQIAP no país. Segundo um levantamento do “Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+” que reúne diversas organizações da sociedade civil, o Brasil registrou cerca de 316 mortes violentas por conta de LGBTfobia no ano de 2021. Além disso, dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (ANTRA) aponta que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, tendo no ano de 2020, 175 assassinatos de pessoas transexuais, o que equivale uma morte a cada 2 dia, tais levantamentos evidenciam assim a necessidade de ferramentas que diminuam esses índices. Nesse sentido, é possível apontarmos o atual contexto sócio-político brasileiro através da ascensão de representações cristãs conservadoras como principal mecanismo reforçador de LGBTfobia no país, tal radicalismo difundido pela extrema direita promove desafios significativos nas lutas LGBTQIAP no território brasileiro, como também um retrocesso nas políticas públicas direcionadas a essa população. A tentativa de segregação social que afeta os indivíduos que performam sexualidades e identidades de gênero não heteronormativas expõe não apenas a violência física como marcador de exclusão mas também a violência psicossocial que marca esses corpos e produz o apagamento de suas identidades, como a falta de autoaceitação e o sofrimento psíquico advindo de patologias mentais como depressão e possíveis quadros suicidas, outras instâncias de exclusão se apresentam como fatores significativos no processo de deslegitimação de corpos LGBTQIAP, como a vulnerabilidade socioeconômica, a negação a assistência à saúde e toda violência promovida institucionalmente. Nessa conjuntura, a filósofa Judith Butler afirma: “para ‘ser’ no sentido de ‘sobreviver’, o corpo precisa contar com o que está fora dele” (BUTLER, 2016, p. 58). Assim, tal temática se articula com a necessidade de produzir discussões expositivas acerca dos atravessamentos psicossociais enfrentados pela comunidade LGBTQIAP e as diversas formas de violência vivenciadas por essa população no atual contexto sócio-político brasileiro, como também a indispensabilidade da atuação profissional do psicólogo frente às demandas de diversidade de gênero e sexualidade promovendo espaços de resistência e lutas antilgbtfóbicas. OBJETIVO: Objetivos Gerais: Este minicurso tem como objetivo promover coletivamente um espaço de discussão, informação e reflexão acerca das temáticas sobre diversidade sexual e de gênero em uma perspectiva de exclusão e violência vivenciada pela população LGBTQIAP e os atravessamentos psicossociais que esses corpos enfrentam no atual contexto sócio-político brasileiro. Objetivos Específicos: Executar de maneira informativa através das atividades propostas uma compreensão sobre a luta LGBTQIAP no contexto brasileiro. Explicitar através dos indicadores sociais como o atual contexto sócio-político cristão conservador de extrema direita contribui para os altos índices de lgbtfobia e promove a segregação da população LGBTQIAP no Brasil. Proporcionar aos participantes um espaço acolhedor para que possam expressar suas vivências e experiências acerca da temática tratada, promovendo uma reflexão sobre si mesmos e seus papéis sociais, no intuito de construir dispositivos de resistência e integração profissional no que concerne à temática LGBTQIAP. METODOLOGIA: No desenvolvimento do minicurso, prevê-se o envolvimento dos participantes a discussões, vivências e produção de conhecimento sobre a temática sugerida através de três momentos específicos: 1- uma apresentação expositiva dialogada abordando o temática a partir de conceituações da psicologia social. 2- uma atividade de construção de um painel coletivo que expressa a interpretação dos participantes sobre as vivências, vidas, histórias, e atravessamentos de sujeitos LGBTQIAP, entre outras. 3- por fim, um momento de fechamento promovendo a ressignificação do "ser um sujeito LGBTQIAP" nos espaços que esses corpos ocupam, apresentando as experiências dos participantes frente às discussões propostas no minicurso, como também possíveis dispositivos que promova integração entre a atuação do profissional da psicologia e a luta LGBTQIAP.
REFERÊNCIA: Butler, J. (2016). Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? (S. T. M. Lamarão & A. M. Cunha, Trads.) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. VISIBILIDADE TRANS: Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. G1 Globo, 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/stories/2021/02/01/visibilidade-trans-brasil-e-o-pais-que-mais-mata-transexuais-no-mundo.ghtml. Acesso em: 20 Ago. 2022.
Vagas: 30
Minicurso 03: Conjuntura Política Brasileira e sua Influência no Campo de Disputas Sobre a Violência Obstétrica
Ana Rebeca Paulino Portela (FACHUSCH/GEMA-UFPE)
A proposta deste minicurso parte da dissertação por mim defendida em junho deste ano, intitulada Violência Obstétrica como campo de disputa: Repertórios Linguísticos na Mídia. Me lancei a estudar as repercussões que o despacho SEI/MS 9087621 de 03/05/2019 do Ministério da Saúde, sobre o não uso do termo Violência Obstétrica (VO), teve nas mídias e as vozes que se posicionaram contra ou a favor do documento. Pensando a importância que essas atrizes e atores assumem no campo do debate e da disputa quanto ao tema aqui abordado. As diferentes relações de poder sobre o corpo da mulher nos mais diversos cenários e, sobretudo no campo da discussão sobre a VO se configuram como um lugar de disputas. Disputas pelo saber científico, quanto ao lugar que as evidências científicas ocupam, questionamento quanto ao saber médico, que ainda é médico-centrado e, por vezes, inquestionável, disputas sobre a retomada ou não do protagonismo feminino nos cenários de assistência em todo ciclo gravídico-puerperal. Parto da perspectiva do Feminismo Interseccional (AKOTIRENE, 2019; COLLINS, 2015; CRENSHAW, 2002) para olhar para esse campo de disputas que envolve o debate sobre a Violência Obstétrica, uma vez que os atravessamentos de gênero, raça e classe estão interrelacionados e não agem de forma independente. À luz dessa teoria, nos opomos a qualquer tentativa de essencialização de categorias sociais e também ao movimento de equiparar todas/os as/os membras/os de um grupo social supondo que possuem as mesmas experiências. Considero que essa discussão precisa partir de todo um processo histórico e político que envolve essa temática. Uma vez que, historicamente, vivemos processos de mais avanços e mais retrocessos a depender de como estão postas as conjunturas políticas naquele momento. Quando olhamos para as políticas de humanização da assistência à gestação, parto, nascimento e abortamento no Brasil, bem como de Planejamento Familiar, é possível perceber importantes construções e avanços. Esses progressos se deram a partir de duas janelas de tempo importantes, a primeira com a organização dos movimentos de mulheres, de profissionais da saúde no período de redemocratização do país e construção do SUS, e a segunda nos Governos do Presidente Lula e da Presidenta Dilma. É notória a construção de políticas públicas na área da saúde das mulheres, nos últimos 30 anos, no entanto, ainda nos faltam que essas políticas sejam de fato integrais, que não abordem apenas os eventos de vida da mulher relacionados à maternidade, mas que incluam com seriedade outros eventos como a anticoncepção, sexualidade e aborto. Após o Golpe de 2016, que tirou a Presidenta Dilma da presidência do Brasil, passamos a vivenciar no País uma onda de conservadorismo e retrocesso nas políticas públicas nos mais diversos âmbitos. É preciso considerar, que todas essas mudanças que vêm acontecendo, em todos os âmbitos das políticas públicas, afetam diretamente nós mulheres – sobretudo as mulheres negras, pobres, indígenas, com deficiência, bissexuais, lésbicas, trans e tantas outras que possam caber aqui – e nossas vidas, em todos os sentidos. Dificultando o acesso a serviços de assistência à saúde, a direitos sexuais e reprodutivos, a emprego, renda, transporte público de qualidade, segurança, moradia, educação. Neste sentido, este minicurso visa proporcionar o debate sobre a VO a partir de um regaste histórico quanto à temática dos direitos sexuais e da justiça reprodutiva e problematizar a atual conjuntura política brasileira que vem num processo de retirada de direitos nesse campo. Este minicurso insere-se na proposta do primeiro eixo de debate proposto pelo evento, uma vez que se trata de uma análise da conjuntura política a partir do debate sobre a Violência Obstétrica e os campos dos direitos sexuais e reprodutivos. Sua relevância justifica-se na necessidade de pensarmos como a Psicologia Social insere-se nesse espaço e se organiza de forma coletiva, pautada no compromisso social e emancipação de pessoas (BOCK, 1999; MARTÍN-BARÓ, 1996). Como metodologia para o desenvolvimento desta atividade, proponho para a modalidade presencial o formato de roda de conversa; uso tarjetas, fotografias e matérias de jornais para construção coletiva de uma linha histórica, a fim de enxergarmos como a construção das políticas voltadas para os direitos sexuais e reprodutivos foram acontecendo no país; uso de texto norteador para o debate. Para o formato online, também proponho o formato de roda de conversa; uso de slides com linha histórica, vídeos documentais sobre a temática e uso de texto norteador.
REFERÊNCIA: AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. Polén, 2019 BOCK, A. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social. Est. Psicologia. 4(2), 1999 CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Est. Feministas, 10(1), 2002 COLLINS, P. Intersectionality’s definitional dilemmas. Annu Rev Sociol, 2015
Vagas: 20
Minicurso 04: Contribuições da Psicologia Latino-Americana para uma Teoria Crítica Interseccional e Descolonial
Carlos César Barros (Universidade Estadual de Feira de Santana)
José Fernando Andrade Costa (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Stefanie de Almeida Macêdo (Universidade Federal do Ceará)
O objetivo deste minicurso é apresentar a tese de que a Psicologia Social Crítica latino-americana, mais precisamente a Psicologia da Libertação, apresenta-se como um referencial central para a descolonização da teoria crítica em uma reformulação interseccional. A teoria crítica, em sua versão frankfurtiana, pode ser caracterizada como um projeto filosófico e de pesquisa interdisciplinar que reconhece seus condicionamentos históricos e problematize, portanto, sua finalidade emancipatória. Desde suas origens o Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt deu destaque à Psicologia Social como uma das ciências particulares essenciais à compreensão das dinâmicas políticas de resignação ou de luta social. Numa abordagem alternativa à hegemonia do funcionalismo estadunidense, o destaque foi dado ao freudo-marxismo de Fromm, passando por um retorno crítico a Freud nos estudos de Horkheimer, Adorno e Marcuse. Nos anos sessenta, Habermas reformula as questões centrais da teoria crítica frankfurtiana, o que afeta diretamente a relação desta com a psicologia, dando destaque agora à psicologia do desenvolvimento moral de Piaget e de Kohlberg. Nessa época também surgiram importantes contribuições de teóricas críticas feministas como Benhabib, Fraser e Cornell. A relação entre esfera pública e esfera privada precisava ser revista para superar a invisibilização da exploração das mulheres. Angela Davis, orientanda de Marcuse, destacou-se como porta-voz do feminismo negro. Uma nova geração frankfurtiana, que desponta entre os anos oitenta e noventa, incorpora os debates feministas. A influência da psicanálise segue nos trabalhos de Honneth, mas agora baseada numa psicanalista feminista: Jessica Benjamin. Cresce, também, a influência da psicologia social pragmatista de Mead e Dewey. No Brasil, temos a relevante contribuição da psicologia social do racismo com Iray Carone e Cida Bento. Mais recentemente, Patricia Hill Collins defende uma epistemologia interseccional em diálogo crítico com a Escola de Frankfurt. A interseccionalidade aborda o capacitismo, o que nos remete aos estudos brasileiros de Crochík sobre preconceito e deficiência. Por outro lado, existem severas críticas ao eurocentrismo frankfurtiano, mesmo que Adorno e Benjamin tenham sido reconhecidos como influências diretas de autores do pós-colonialismo. Ou seja, tais críticas buscam apontar para os limites de uma teoria crítica que carrega também um potencial descolonizador. Uma possível resposta veio da retomada da crítica ao capitalismo por Fraser e Jaeggi. Elas enfatizam a necessária crítica da exploração e da expropriação que estão diretamente vinculadas ao racismo, ao sexismo e à Colonialidade, oferecendo atenção à morada oculta do marxismo em elementos que foram marginalizados na análise social. Um diagnóstico social interdisciplinar, hoje, deve estar atento a tais temas. Mas será que as novas frankfurtianas trouxeram alguma inovação no campo da psicologia? Allen, que critica o eurocentrismo de Habermas e Honneth, propõe um retorno a Adorno e Foucault na filosofia, e à psicanálise kleiniana. Fraser e Jaeggi dão poucas pistas de como a Psicologia se faz presente em seus projetos teóricos ou práticos. Nosso minicurso apresentará esse cenário e a tese de que temos uma importante produção na Psicologia Social Latino-Americana que pode contribuir com as discussões mais avançadas da teoria crítica contemporânea. A Psicologia da Libertação, proposta por Martín-Baró, e desdobrada em psicologia comunitária por Maritza Montero, carrega consigo um contraponto importante à Escola de Frankfurt. Se, por um lado, ela se constitui a partir de leituras diretas de Marcuse, ela se desenvolve fazendo um importante debate sobre a linguagem, a comunicação e o desenvolvimento moral, tal como Habermas. Os conceitos de ação e ideologia, não por acaso, tornam-se centrais nessas duas tradições. Um crescente interesse pelas relações sociais cotidianas, pelo mundo da vida, são comuns a Habermas, Honneth e à psicologia comunitária, em uma trama conceitual muito promissora para uma atualização teórica e empírica. A proposta ético-política da psicologia da libertação, a opção pelos condenados da terra, que remete à máxima benjaminiana de esperança nos desesperançados, tal como ao diagnóstico fraseriano do capitalismo, encontra uma expressão precisa na interseccionalidade, com seu compromisso fundamental com a justiça social. Se temos uma psicologia com uma herança teórica e prática que condiz com o projeto crítico contemporâneo, por que insistir em teorias psicanalíticas ou psicológicas distantes dos oprimidos em suas elaborações? Se, por outro lado, nossas teorias ainda se baseiam em referenciais criticáveis, como a cognição social ou a fenomenologia construcionista, que contribuições a virada pragmática de Habermas, Honneth, Fraser, Jaeggi e Collins pode trazer para uma psicologia da libertação ainda mais potente?
Vagas: 20
Minicurso 05: Contribuições de Fulvia Rosemberg - Cidadania dos Bebês
Ana Maria A. Mello (CINDEDI USP/RP)
Angela Cruz Santos (NEGRI PUC/SP)
ATENÇÃO: Este minicurso será realizado somente no dia 01/12, durante a etapa online do Encontro, com carga horária total de 2 horas.
RESUMO: O objetivo deste minicurso é provocar estudos e reflexões sobre a história das ideias da pesquisadora, psicóloga Fúlvia Rosemberg. Ainda que de modo introdutório, acreditamos ser fundamental fazer este breve "passeio rosemberguiano", visto que os estudos por ela desenvolvidos, coordenados ou orientados contribuem significativamente para o desenvolvimento de pesquisas na psicologia, especialmente na psicologia social, na educação dentre outras áreas do conhecimento científico. Na primeira sessão vamos apresentar os pressupostos teóricos-metodológicos, destacando alguns trabalhos para serem analisados durante as primeiras duas (2) horas, deixando para a última hora para o cursista relatar episódios sobre políticas públicas para bebês, interações entre bebês e interações entre bebês e adultos. Na segunda sessão iremos provocar as/os cursistas para pensar direito humano onde a infância é apresentada como construção social, e a criança desde bebe como ator social, sujeitos de direitos, protagonista de sua própria historia, participante ativa da sociedade e produtora de cultura. Nesse primeiro dia os estudantes devem refletir sobre o que é ser sujeito de direito e se o bebê ao nascer é cidadã/cidadão. Finalmente na terceira sessão (virtual) iremos destacar sobre nossa compreensão de problemas sociais que envolvem o bebê suas/seus educadoras/es e suas famílias. Os cursistas precisam ter acesso ao livro disponibilizado pela editora da PUC/SP o e-book, 2022: "Pressupostos teórico-metodológicos e políticos da cidadania dos bebês" Acessar: https://www.pucsp.br/educ/livro?id=590 Sugerimos a leitura dos capítulo 1 (Pressupostos teóricos- metodológicos da Cidadania dos bebês, capítulo 7 (Discursos sobre bebês e creche na propaganda eleitoral de 2012) e capítulo 11 (Algumas Reflexões sobre o modo de acolher crianças até 3 anos). Acreditamos que os estudos de Fúlvia Rosemberg que foram incluídos nesta publicação utiliza de metodologia consistente que contempla basicamente da análise documental, a partir de (1) resgate sistematização de um conjunto de proposições teóricas registradas em artigos, palestras, entrevistas e documentos sobre o tema ao longo da trajetória dessa pesquisadora e ativista; e (2) dados decorrentes de pesquisas coletivas por ela coordenada no Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Idade (NEGRI, PUC SP), vinculado ao Programa de Pós Graduação em Psicologia Social, cujo o enfoque sempre foi sobre a compreensão de problemas sociais envolvendo as crianças desde bebês. Esta linha de pesquisa, ensino e extensão está alinhada portanto ao Eixo 2 deste VII Encontro Regional Nordeste. Pretendemos ter um espaço de trocas e proposições de modo dialógico, considerando as urgentes pautas sobre os direitos dos bebês, e a tarefa continuada de construir políticas públicas mais resistentes e contínuas, que garantam a cidadania dos bebês brasileiros.
Vagas: 30
Minicurso 06: Saberes e Práticas de Cuidado em Comunidades Tradicionais – Diálogos Interculturais em Saúde
Saulo Luders Fernandes - Universidade Federal de Alagoas
Raul Santos Brito - Universidade Estadual Paulista
Lilana Parra Valencia - Universidade Copperativa da Colômbia.
As experiências que serão apresentadas a seguir foram construídas em diferentes momentos e lugares. Vamos adentrar em práticas de cuidado produzidas em territórios tradicionais do Brasil e da Colômbia. Há momentos que as práticas de cuidado se encontram e seguem um lugar comum entre as comunidades e em outros momentos apresentam expressões singulares produzidas em seus territórios específicos. Importante salientar este campo de similaridades e diferenças entre as comunidades tradicionais, quanto aos seus modos de vida, práticas diárias, formas de organização social e percursos históricos. Apesar das diferenças, as comunidades vivem e experienciam na América Latica o racismo estrutural como marca organizante das relações de violência, marginalização e opressão presentes em seu dia a dia. Frente a estas relações de opressão as comunidades tradicionais constituem uma diversidade de práticas de resistência e reexistência que vão desde de: os modos de cultivo da terra; as formas de sociabilidade coletiva e comunitária marcadas na vida cotidiana; as práticas narrativas com conto de causos e histórias que alimentam suas memórias e atualizam suas experiências de vida; a relação com as plantas nas práticas de cura e cuidado, com o uso dos chás, fervuras de plantas e garrafadas; experiências com as rezas e benzimentos que possibilitam o alimento do espírito, como expressão não apenas do sujeito, mas da união coletiva; o vínculo com o território e a terra que promove o reconhecimento de suas histórias e de cuidado com o seu viver. Assim, é nesta pluralidade de experiências de cuidado enraizadas e proliferadas nas comunidades tradicionais que temos como objetivo deste minicurso promover o compartilhamento de experiências dos nossos trabalhos em psicologia desenvolvidos em comunidades tradicionais com a proposta de diálogos interculturais em saúde. Os relatos e as análises que permearam o minicurso foram frutos de pesquisas e ações de extensões anteriores, de ao menos seis anos de relação com as comunidades tradicionais, equipamentos de saúde, moradores e lideranças comunitárias. As discussões que serão debatidas fazem parte de estudos que desenvolvemos em conjunto, fruto de pesquisas internacionais, pesquisas de mestrado e estudos em desenvolvimento de pós-doutorado. O que há de comum nestes estudos é o objetivo de mapear as práticas para cuidado presentes nas comunidades tradicionais do Brasil e da Colômbia. Todos os estudos apresentados têm por base a pesquisa qualitativa descritiva baseada em metodologias participativas e colaborativas. Seus desenvolvimentos foram baseados em entrevistas, conversas diárias, caminhadas comunitárias, diários de campo e observação participante. As/Os participantes dos estudos foram moradoras/es, mestres de cuidado de Comunidades Tradicionais. Os grupos tradicionais são definidos pela Convenção nº 169, pela diferenciação das formas de organização social e política relacionada à apropriação da terra e da natureza a seus modos de vida, com histórico de resistência que os diferenciam da totalidade da sociedade. Nesta definição as comunidades quilombolas são incluídas nos termos da Convenção como grupo étnico-racial, que por apresentar histórico de luta à opressão, com formas de organização social, política e expressões culturais específicas, encontram na terra e na natureza formas de perpetuar e construir suas vidas. As comunidades tradicionais podem ser caracterizadas por comunidades com relações específicas com seu território, que, por meio de produções históricas específicas, constituíram, diante das estratégias de dominação e violência sofridas, táticas e processos de subjetivação que resistem aos parâmetros hegemônicos das lógicas coloniais modernas. As categorias construídas coletivamente nos estudos que iremos abordar neste minicurso mostram que o ato de cuidar está vinculado à relação que os participantes têm com a terra e o seu território, que são entendidos como espaços de vida, lugar de produção de saberes ancestrais e saberes coletivos. O cuidado não se restringe à dimensão humana, mas a coloca em relação mútua com a natureza como co-extensão da vida coletiva compartilhada em comunidades. Outro elemento fundamental foi a palavra e a oralidade que carregam consigo a capacidade de aproximar o campo da experiência da narrativa, uma experiência que, ao ser contada, adquire contornos diversos, adensa as experiências passadas e envolve o outro, permitindo a emergência de uma ética do cuidado coletivo. Este cuidado coletivo também se apresenta nos territórios sagrados das comunidades, em suas práticas espirituais que tem na terra e na natureza seu vínculo à produção do viver compartilhado. Apesar da violência estrutural vivida historicamente pelas comunidades tradicionais na América Latina, elas resistem a partir de seus saberes e práticas que têm a possibilidade de cuidar de seus modos de ser e existir na natureza e nos laços coletivos.
Vagas: 25