Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
FEMINISMO E RACISMO: Um recorte bibliográfico de autoras pretas
Elaine Maria Silva Moura.
Graduada em Psicologia e membra ABRAPSO, núcleo Cariri (CE)
E-mail: elaine.m.s.moura@gmail.com
Resumo: Ao falar sobre as estruturas e concepções que sustentam os estereótipos no contexto de gênero e cor, Grada Kilomba (2019), se utiliza de uma releitura conceitual elaborada pela escritora e teórica estadunidense bell hooks de sujeito e objeto. Sujeito, nesse sentido, seria todo individuo capaz de falar por si próprio, escrevendo a sua própria realidade, história e identidade, e objeto seria aquele que é construído a partir da fala desse sujeito, que só se define na relação com ele. Esse “ele”, pronome masculino que universaliza a condição de sujeito, denota outro ponto fundamental para o desmonte colonial e de gênero que Grada Kilomba (2019) propõe, encontrado justamente na reflexão crítica de que a realidade e a cultura produzidas a partir do campo da língua e linguagem, no social, estabelecem relações que sustentam estereótipos e preconceitos baseados em crenças misóginas e de desvalorização das minorias que não se encontram no guarda-chuva do binarismo masculino e feminino, promovendo a perpetuação do patriarcado, ao converter as experiências humanas, principalmente na língua portuguesa, a conceitos invariavelmente masculinos. Ruminando o exposto, auxiliada pelas autoras brasileiras Lélia Gonzalez e Neusa Santos Souza, compreende-se que a língua, a linguagem e a cultura, utilizadas na perpetuação dos sistemas de exclusão, e produzidas a partir desses mesmos sistemas de dominação, concedem a todo individuo não masculino, de maneira preestabelecida, a condição de objeto. Percepção que é reforçada pela escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (2009), ao contextualizar que, quando uma única história é contada a respeito de um povo ou classe, essa história passa a ser não apenas uma forma de representação cultural, mas principalmente uma identidade daquelas ou daqueles de que fala. Assim, a língua opera como perpetuador de concepções, valores e cultura de um povo, sendo também reprodutora de estereótipos e preconceitos que servem aos interesses dos sistemas totalitários de dominação. O trabalho aqui expresso, apresenta de maneira crítica a seguinte questão problema: É possível operar o desmantelamento dos estereótipos de gênero e cor através de uma ferramenta de dominação e opressão, como a linguagem? E mais, onde a psicologia entra nesse processo? A hipótese levantada é de que as pequenas revoluções promovidas no cotidiano por meio da criticidade e não perpetuação de formas estereotipadas, tem a capacidade de modificação da realidade e da cultura. A metodologia que será utilizada é a da analise bibliográfica, onde o recorte estabelecido é o de autoras pretas, que tratam de gênero e cor em suas produções, com enfoque principal em questões feministas e racismo. Como conclusão espera-se contribuir para o arcabouço de pesquisas existentes propiciando debates que expandam diálogos em torno das questões de gênero, feminismo e linguagem, e principalmente reforçar a necessidade de um olhar interseccional para essas questões.
REFERÊNCIAS
ADICHIE, Chimamanda. O Perigo da História Única. Vídeo da palestra da escritora nigeriana no evento Tecnology, Entertainment and Design (TED Global 2009). Disponível em: http://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story?language=pt. Acesso em: 14 de jan. 2021.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2008. Disponível em: https://ayanrafael.files.wordpress.com/2011/08/gil-a-c-mc3a9todos-e-tc3a9cnicas-de-pesquisa-social.pdf. Acesso em: 20 mai. 2018.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano : ensaios, in-tervenções e diálogos / organização Flavia Rios, Márcia Lima. — 1ª ed. — Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a Educação como prática de liberdade. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla- São Paulo. 2013. Editora Martins Fontes, 2013. Disponível em:https://www.ufrb.edu.br/ppgcom/images/sele%C3%A7%C3%A3o_2020.1/hooks_-_Ensinando_a_transgredir.pdf. Acesso em: 23 jun. 2021.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social, 1a ed., Rio de Janeiro: LeBooks, 2019.
Palavras-chave: Feminismo; Racismo; Linguagem; Autoras.