Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

O Pré-natal Psicológico e o Medo da Violência Obstétrica no SUS

Nara Virginia Rocha Simões Anadão - Estácio/AL;

Priscila Barroso Pereira da Silva - Universitário Tiradentes - UNIT/AL

Yasmin Lima Caldas - Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL

Resumo: INTRODUÇÃO: O presente trabalho trata-se de um relato de estágio extracurricular que acontece em Maceió, Alagoas. Um grupo de Pré-natal Psicológico (PNP) com mulheres gestantes em situação de vulnerabilidade social, coordenado pela psicóloga supervisora e duas estagiárias de Psicologia. O PNP é um instrumento utilizado como um componente complementar ao Pré-natal Tradicional, que tem como foco trabalhar os aspectos emocionais relativos ao período gravídico-puerperal, através de encontros individuais ou em grupo. Neste projeto de atuação na modalidade grupal, são trabalhados diversos temas relacionados à gestação e a parentalidade, como o puerpério, a amamentação e o parto, entre outros. Com a temática do parto, contudo, percebeu-se a reação em expressão de evitação de situações que as colocassem em posicionamento de enfrentamento da equipe de saúde da maternidade pública, devido a confrontação de violência obstétrica durante o trabalho de parto. OBJETIVO: Apresentar a prática de estágio desenvolvida com o grupo de PNP e a reação suscitada pela temática do parto no SUS. MÉTODO: O grupo teve seu início em junho de 2021, período em que a pandemia da Covid-19 estava em seu ápice, e segue acontecendo até os dias atuais. Os encontros ocorrem presencialmente em uma sala disponibilizada por uma instituição sem fins lucrativos que acolhe idosos, e dura cerca de 2 horas. Tem como participantes mulheres grávidas em diversas etapas gestacionais, é aberto, ou seja, durante o passar dos meses outras gestantes vão sendo incluídas, e não possui faixa etária fixa. Os encontros são realizados mensalmente e são utilizadas algumas metodologias para a exposição do conteúdo, como a roda de conversa, as dinâmicas de grupo e palestras. RESULTADOS: A partir da execução do PNP em grupo, foi possível perceber os diferentes estados emocionais que temáticas específicas suscitaram nas participantes. Entretanto, quando o ponto debatido relacionou-se ao parto, foi percebido e verbalizado pelo grupo o sentimento de medo, desamparo, insegurança e, principalmente, a revolta. Multíparas traziam seus relatos anteriores, e em muitos deles, era perceptível como a experiência de parir no SUS havia sido traumática. Porém, junto às primeiras sensações mencionadas, elas carregavam consigo uma espécie de conformidade com as situações de violência obstétrica vivenciadas no SUS. Foi mencionado, inclusive, que durante o parto elas ouviam termos que não conheciam, que serviam como justificativas das atitudes impostas pelos profissionais de saúde, que utilizavam do artifício da desinformação dessas pessoas para impor a elas a via de parto que assim desejavam. CONCLUSÕES FINAIS: Com essa experiência de estágio pudemos aprender como as mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social são tratadas, como se sentem sem voz nos espaços de saúde, muitas vezes são incompreendidas ou desmerecidas. É chocante perceber, com os relatos, que as mulheres notam que estão sofrendo algum tipo de violência pela maneira com que são tratadas, contudo, se sentem invisibilizadas, desprotegidas e, em certo ponto, até conformadas com a realidade em que estão inseridas, por não encontrarem formas de se defenderem. Para nós, evidenciou-se que o nosso papel com este projeto é construir, em conjunto, maneiras de auxiliá-las nesses momentos em que elas se sentem em perigo, acolhendo suas falas e validando suas angústias, fortalecendo-as para o momento do parto e posteriormente no puerpério.


Palavras-chave: Pré-natal Psicológico; Psicologia; Parto; Sistema Único de Saúde; Violência Obstétrica.

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