Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

ePSItemicídio: reflexão sobre os apagamentos de saberes na Psicologia e o compromisso de reverter a situação

Priscilla Lorraine Santos Gomes - Universidade Tiradentes

Resumo: As Psicologias foram criadas e desenvolvidas a partir de lentes do outro lado do oceano, lugar de temperaturas mínimas e saberes enaltecidos. Chegou em nossas terras, e o saber foi cristalizado em nossos climas tropicais. O campo foi instalado sob um padrão cultural eurocêntrico e desenvolvido como norma dentro das construções de formação psi, onde ocorre os apagamentos de conhecimento de grupos subalternos e dominados a partir das escolhas de autores e assuntos que colaboram para a desqualificação do próprio sujeito como ser não produtor de conhecimentos. A reflexão traz o racismo como principal eixo que articula este tipo de opressão, desenvolvendo um bloqueio na epistemologia dentro do campo, que trazemos aqui como “ePSItemicício”. Até os tempos de hoje o campo é baseado em ideias de grupos privilegiados, que têm como organização a exclusão do que se difere da norma, sendo assim desafiante o planejamento para o começo de uma construção de mudança na produção epistêmica nos debates em Psicologia, pois sempre há tentativas de aniquilar os saberes que são produzidos fora da hegemonia apresentada. Inicialmente foi selecionado artigos na base de dados Scielo e acervos de universidades que iriam compor a base da pesquisa. Foram escolhida obras em que desenvolvesse sobre o bloqueio epistemológico no Brasil, trazendo a discussão sobre a escolha das grades curriculares da Psicologia terem em grande parte apenas autores normativos e dentro do eurocentrismo, participantes do grupo dominante, sempre tendo alguém que escolhe quem deve ser ouvido. Foi utilizado os conceitos e reflexões de Sueli Carneiro e Grada Kilomba para a discussão sobre a necessidade de ser inserido outras vivências dentro do campo de conhecimento da universidade, para que seja resgatado histórias que foram apagadas e que podem contribuir para o desenvolvimento da área. A produção do artigo contribuiu para o entendimento de como é feito a produção da definição de conteúdos dentro dos campos de saberes, mostrando que a dominação ocorre através deles e que o epistemicídio é a forma mais duradoura disso ser eficaz. O conhecimento foi colonizado e a epistemologia escolhida faz a manutenção de garantir em quem devemos acreditar, sempre irão existir autoridades de determinados temas que são escolhidos por grupos dominantes, negando o conhecimento do outro para que os deles sejam legitimados. Porém os subalternizados nunca pararam de gritar e a Psicologia tem como compromisso fazer com que sejam escutados. O ePSItemicídio é para além da exclusão do saber, ele desqualifica os próprios autores, produzindo uma cultura de inferiorização intelectual, bloqueando a possibilidade do outro ser portador e produtor de conhecimento. Com o desenvolver da pesquisa foi possível perceber que a psicologia continua com suas raízes de elitização e com planejamento de selecionar o grupo que deve falar e o que deve ser silenciado. Surgindo assim a necessidade de reformular as estruturas para que se conheça os que sempre estiveram calados e permitir que o conhecimento que sempre esteve nas bordas e no sul sejam centrais, para que as possibilidades sejam garantidas e que todo corpo seja legítimo de produtor de conhecimento dentro e para as Psicologias.


Palavras-chave: Epistemicídio; Contra-colonização; Saber decolonial.

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