Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Escancarando a desigualdade: implicações educacionais na graduação de Psicologia da FACISA na pandemia de COVID-19

César Bismac de Oliveira Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/FACISA)

Lauane Caroline de Oliveira (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/FACISA)

Rosiane Oliveira Santos (Universidade Federal do Rio Grande do Norte/FACISA)

Resumo: Diante da pandemia da COVID-19, na tentativa de conter a propagação do vírus, foram adotadas medidas emergenciais a partir de orientações dadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), dentre elas, o isolamento social. Com efeito, a educação antes presencial passou a ser exercida no modelo de Ensino Remoto Emergencial, em virtude da impossibilidade dos professores e alunos de frequentarem as instituições de ensino e do engavetamento do planejamento pedagógico para o ano de 2020 (Behar, 2020). Este trabalho objetiva discutir as implicações educacionais resultantes do modelo remoto de ensino durante a pandemia da COVID-19 vivenciadas no curso de graduação em Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (FACISA/UFRN) e o favorecimento do capitalismo por meio de uma reprodutibilidade técnica de ensino. Considerando o contexto capitalista e o avanço tecnológico, sobretudo, o alcance da internet, a educação a distância surge como um segmento favorável para intensificação do sistema de reprodutibilidade econômica. No entanto, o que poderia ser benéfico para a comunidade acadêmica, por possibilitar o acesso ao ensino por intermédio dos equipamentos tecnológicos, como notebooks e smartphones e também por propiciar à educação no ambiente domiciliar, agregada ao alcance da internet, na realidade não se mantém, pois, a acessibilidade tecnológica não se dá de maneira democrática. Consequentemente, nesse método virtual de ensino, as desigualdades sociais são conservadas e reverberam em desigualdades escolares (Silva, Silva & Cândido, 2022). Sendo assim, apesar de toda expansão da tecnologia em relação à mídia-educação, em países periféricos como o Brasil, a “sociedade em rede” apresenta mais uma categoria de desigualdade: a tecnológica. Na UFRN, foi disponibilizado o auxílio instrumental àqueles alunos que comprovasse sua baixa condição financeira, numa tentativa de democratizar o acesso remoto à educação durante a pandemia. Não obstante, tal ação não se tornou efetiva ao considerar o corpo discente de um campus universitário interiorano, uma vez que o valor era ínfimo, não podendo arcar com as despesas de ter pelo menos um aparelho e internet que sustentasse as aulas. Associado a isso, o letramento digital se torna um fator relevante ao se pensar numa educação inclusiva, embora a Organização das Nações Unidas (ONU) já tenha reconhecido o acesso à internet como um direito humano universal (Bacciotti, 2014 citado por Macedo, 2021, p. 266), é possível compreender que a conectividade se mantém como um privilégio social agravado pela pandemia do Coronavírus, que já era desigual na realidade brasileira (Macedo, 2021). A partir do agravamento da propagação do vírus, dado o isolamento social, a UFRN passou a adotar a educação virtual em que as aulas eram transmitidas pela plataforma do Google Meet, com acesso via e-mail. Com isso, as aulas do curso de psicologia antes interativa, passou a ter um cunho mais expositivo, em que o aluno não era mais o protagonista do processo de aprendizagem, considerando as adaptações necessárias da própria transmissibilidade do saber no meio virtual, como a utilização de horários de aula destinado para a leitura acadêmica. Nessa perspectiva, o modelo remoto junto ao cenário pandêmico também promoveu a fragilização dos vínculos sociais que o espaço do ensino em sala de aula fornecia, interferindo significativamente na formação acadêmica dos alunos, em razão do caráter teórico do curso e do estudo direcionado às relações humanas e implicações psicossociais na promoção de saúde. Tal fator foi evidenciado pela falta de entusiasmo durante as aulas, em que a maioria dos alunos se viam desmotivados a abrirem o microfone, interagindo mais através de mensagens da plataforma. Nesse viés, o sistema educacional girava em torno de uma reprodução passiva do ensino-aprendizagem, dado que, nessas condições, havia dificuldade de promover dinâmicas de aulas que favorecessem o uso de metodologias ativas que demandam grande participação dos alunos, além do ambiente familiar que esse aluno se insere, muitas vezes, não podendo ser convertido em um espaço favorável de estudo. Essa adaptação também impactou o cronograma planejado para o ano de 2020, resultando na limitação dos conteúdos estudados, gerando um grave déficit na qualidade de ensino para o exercício profissional enquanto futuros psicólogos. Em meio a esse panorama, é possível refletir o quanto todas essas problemáticas favorecem o sistema capitalista ao aprofundar a desigualdade social promovendo-se como obstáculo para a democratização do ensino, que enquadra o aluno numa condição passiva de aprendizado, em que os menos favorecidos economicamente sofrem mais com esse sistema e tendem a permanecerem nesta condição cristalizada de reprodução, gerando um abismo ainda maior diante da busca por uma sociedade desenvolvida e condições igualitárias de ensino. Portanto, diante das problemáticas abordadas, torna-se evidente que a educação em ensino remoto não se efetiva na tentativa de ser democrática, pois, ao invés de propiciar a expansão do ensino através de mecanismos tecnológicos, na realidade, escancara e intensifica ainda mais as desigualdades já existentes.


Palavras-chave: Ensino remoto emergencial; Capitalismo; Reprodução técnica; Desigualdade social; COVID-19.

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