Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

A pesquisa como feitiçaria e resistência em tempos antidemocráticos

Maryana Karlla Penha de Araújo- Universidade Federal de Pernambuco

Luane Macedo Souza Pereira- Universidade Federal de Pernambuco

Paulo Roberto Pereira da Silva Filho-Universidade Federal de Pernambuco

Laisse Rafaela Arruda- Universidade Federal de Pernambuco

Wanderson Vilton Nunes da Silva-Universidade Federal de Pernambuco

Resumo: Ao considerarmos os contextos de construção de conhecimento com os ataques antidemocráticos mais recentes no Brasil, temos nos inserido em um cenário caótico de desmontes das pesquisas científicas. A proposta que trazemos com esse trabalho está relacionada às leituras e discussões em grupo de orientação ao longo deste ano, leituras que tem permitido a construção de novos olhares e gostos sobre a nossa construção como psicólogas/os/es e pesquisadoras/es. Também estamos nos inserindo em uma série de discussões que buscam contribuir com a construção de conhecimento científico que esteja articulado aos saberes e práticas feministas, especialmente pensados a partir de uma discussão crítica alicerçada nas práticas de reativação de saberes que foram alvo de ataques e de práticas consideradas, mais recentemente, como epistemicidas, relativas à colonialidade dos saberes, do ser e dos fazeres. Partindo desse cenário, buscamos problematizar as práticas científicas em Psicologia a partir da construção de uma cosmopolítica com a qual seja possível criar confluência de saberes e de práticas na academia. Para alcançar tal objetivo trabalhamos com o conceito de cosmopolítica e de como ele atravessa a produção de Isabelle Stengers, considerando as contribuições de feministas em diálogo com outras autoras que trabalham com a produção de narrativas críticas na pesquisa acadêmica. Ao considerarmos alguns dos textos daquela autora, traduzidos para a nossa língua, tentamos compreender como a escrita pode ser uma ferramenta de construção de conhecimento capaz de criar outras possibilidades de vida e de existência a partir de receitas feiticeiras, que ressaltam um trabalho de experimentação ativa, sempre aberta ao imponderável e ao imprevisível. Para esta discussão consideramos dois textos específicos desta autora: a) A proposição cosmopolítica; b) Reativar o animismo. Nestes textos, a autora, vinda das ciências exatas, constrói uma crítica aos modos capitalistas de construção de conhecimento nas ciências, referindo-se e compondo uma proposta cosmopolítica para as ciências baseada em alguns princípios articulados pela leveza e pelas práticas de resistência nas ciências, inspirada em práticas científicas de outras mulheres. Além disso, ela também assinala a força das palavras na pesquisa como elemento necessário e componente de resistência e criação em nossas pesquisas, especialmente quando considerado seu poder de encantamento e de feitiçaria, propondo uma reativação do animismo em nossas práticas científicas. Deste modo, construímos como eixos analíticos as seguintes proposições: a) a escrita como modo de criação de vidas plurais na pesquisa; b) a pesquisa como prática articulada à construção de resistência. Como questões a compartilhar temos pensado sobre a importância do diálogo entre diferentes saberes na construção de nossas pesquisas em Psicologia, criando o que tem sido chamado de parlamento de saberes. Bem como a importância de constituição de uma política de pesquisa científica que nos integre aos nossos territórios vivenciais. Por fim, consideramos que o conceito de cosmopolítica nos auxilia a pensarmos sobre os modos como nos articulamos na construção de conhecimento científico em Psicologia, pensando a construção de frestas e fendas que possibilitem resistência e criação de outras vidas e experiências desde o campo democrático e da pesquisa em psicologia situada..


Palavras-chave: Conhecimento; Ciência; Psicologia; Política de Pesquisa.

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