Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Acesso e Permanência no ensino médio: trajetórias escolares de jovens estudantes oriundos do campo na rede pública de ensino

Veronica dos Santos Lima (UNIFACS - Universidade Salvador)

Giovana (UNIFACS - Universidade Salvador)

Tiara Melo (UNIFACS - Universidade Salvador)

Resumo: Historicamente, os jovens estudantes do ensino médio oriundos do campo têm sido uma população invisibilizada e mal assistida pelo sistema público de educação. No Brasil, a educação no campo vem sendo associada a uma visão de superação do atraso do campo, com relação a cidade. Seu reconhecimento como direito e regulamentação se deu na década de 90,  no entanto, mesmo a legislação exigindo uma educação do campo pautada nas demandas específicas para sua realidade, atualmente apenas uma parcela ínfima da população do campo consegue ter acesso a esse direito (PEREIRA; CASTRO, 2021).Destarte, é preciso fazer uma diferenciação entre  a educação no campo e a educação do campo. A primeira refere-se ao ensino projetado para a realidade urbana que têm sido transferido para a população do campo sem qualquer adaptação. A segunda é um conceito de educação, construído por movimentos sociais do campo, pensado para a população do campo, considerando as características específicas desse território. Nesse sentido, a população jovem residente do campo possui um conjunto de características próprias, destacando-se a precarização do modelo educacional a eles oferecido (TROIAN; BREITENBACH, 2018). Pois, além da escassez de condições materiais necessárias para um processo de aprendizagem adequado, mediante a dificuldade ou falta de acesso a ferramentas didáticas e pedagógicas como livros e internet.  Suas trajetórias escolares também são marcadas  por um modelo de ensino  que não condiz com as particularidades próprias da vivência no campo, tão pouco dialoga com elas; não respeita seus modos de vida e impõe o urbano como o ideal, (ALVES e DAYRELL, 2016). Nesse ensejo, entende-se que se em contextos habituais de ensino presencial já haviam falhas no modelo educacional concedido a população jovem do campo, faz-se necessário questionar em que pé encontra-se o acesso e permanência à educação durante o período pandêmico, que afetou o sistema educacional como um todo, mas acredita-se que o impacto tenha sido significativamente maior para grupos em contexto de vulnerabilidade social. O desenvolvimento de pesquisas no Brasil tem sido permeado por muitos desafios e limitações. Esta experiência não se encontra fora da curva, produzir conhecimento a respeito de um fenômeno ainda em andamento impõe a falta de dados secundários. Por tanto, entendeu-se a necessidade de  traçar uma metodologia exploratória, para coleta de dados em fontes primárias. Pesquisar sobre um grupo populacional o qual faz parte, pode ser um desafio na medida em que há a possibilidade de confusão com o objeto de estudo. Nesse sentido, tal situação tem sido trabalhada desde o início pela orientadora. E a elaboração de um trabalho em conjunto, durante um período pandêmico, concomitante ao andamento de um semestre acadêmico atípico, trouxe muitas interferências na comunicação deste grupo de pesquisa pois todos se encontravam em municípios do campo com dificuldade de conexão, e em determinados momentos houve uma sobrecarga de demandas tanto acadêmicas quanto domésticas o que afetou a disponibilidade dos envolvidos. Porém, como estratégias de enfrentamento conseguiu-se estabelecer uma troca de informações por meio de um grupo de mensagens e os encontros eram feitos por meio de videochamadas, por vezes apenas com o recurso sonoro, dada a dificuldade de conexão. Apesar dos desafios, a iniciação científica foi e tem sido uma experiência fecunda com impacto direto no desenvolvimento acadêmico. Uma experiência oportuna para manutenção do foco e construção de objetivos e metas em um momento de muita dispersão. Favoreceu a prática da leitura e interpretação de artigos acadêmicos, necessários à realização das atividades propostas em sala de aula. Ademais, o contato com a orientadora e os membros do grupo de pesquisa, trouxe um sentimento de pertencimento e um senso de realidade para a vida acadêmica, que parecia distante e forçou parte da comunidade acadêmica tangenciar o impossível diante do cenário de incertezas, consequência da experiência pandêmica. Outrossim, a experiência aqui descrita  coadjuva para o desenvolvimento de um olhar observador  e crítico sobre os fenômenos sociais que possibilita perceber o grupo populacional estudado de forma integral, considerando suas relações sócio-histórico-culturais estabelecidas em determinado território.  


Referências


ALVES, M. Z.; DAYRELL, J.T. Processos de escolarização de jovens rurais de Governador Valadares-MG: entre sonhos e frustrações. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 97, p. 602-618, 2016.

PEREIRA, C.N.; CASTRO, C.N. Educação no meio rural: diferenciais entre o rural e o urbano. Brasília, DF: Ipea, 2021. (Texto para Discussão, n. 2632)

TROIAN, A.; BREITENBACH, R. Jovens e juventudes em estudos rurais do Brasil. Interações (Campo Grande), vol.19, n. 4, Campo Grande, Oct./Dec., 2018..


Palavras-chave: Jovens do Campo; Educação no campo; Pandemia

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