Resumo: Esta comunicação tem como objetivo relatar o processo de idealização, formulação e construção conjunta de uma pesquisa sobre a produção acadêmica brasileira da Psicologia na resposta à Covid-19, publicada entre 2020 e 2021. A pandemia do COVID-19 teve grandes impactos em todos os setores da sociedade. Ao enfrentar graves desafios já presentes, os periódicos brasileiros de Psicologia, por exemplo, enfrentaram dificuldades ainda maiores em virtude de suas consequências; nada obstante, continuou-se a produzir como forma de resistência e meio de produzir saber desse fenômeno atual e complexo. Neste trabalho buscamos compreender, no contexto de crise do capitalismo neoliberal, o papel da Psicologia brasileira na resposta à pandemia de Covid-19, tendo como questão: Qual o papel da Psicologia no contexto de crise do capitalismo neoliberal no âmbito da pandemia do novo coronavírus?”. O aspecto de evento inédito que a pandemia trouxe com relação às nossas vivências escancarou fragilidades enquanto seres sociais, especialmente com relação à elaboração do luto, às crises socioeconômicas que aprofundaram desigualdades sociais no Brasil e à crise sanitária e da gestão da política de saúde por um governo genocida. Entendemos que esses fatores podem ter reverberado na forma em que as pesquisas foram sendo produzidas nesse período. Trata-se de pesquisa bibliográfica, analítica-exploratória.. Na construção do panorama geral das publicações da Psicologia brasileira na resposta da pandemia, catalogamos centenas de trabalhos e analisamos seu conteúdo. A realização das categorizações dos artigos foi desafiadora em virtude da extensão e diversidade dos trabalhos encontrados. Nessa pesquisa levantamos 282 artigos publicados em 51 periódicos brasileiros, entre 2020 e 2021, com os descritores psicologia e Covid-19 ou coronavírus ou pandemia. Os resultados foram analisados e categorizados a partir de análise de conteúdo. A análise de conteúdo baseia-se na relação de estruturas semânticas (significantes-respostas dadas pelos entrevistados na pesquisa) com estruturas sociológicas (significados-atribuições e interpretações feitas a partir dos significantes) dos enunciados. Bem como, se estruturam em três fases, a saber: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Sendo essas fases caracterizadas de maneira distinta, a pré-análise é constituída por um processo mais organizativo com vistas a escolher documentos que serão submetidos à análise, formulação das hipóteses e objetivos, e por fim, a elaboração de indicadores que fundamentará a interpretação final do material disposto; a fase da exploração do material é focada nas operações de codificação, decomposição, e caso necessário, enumeração do material disposto; e por fim, o tratamento dos resultados, inferência e interpretação se correlacionam em tratar os dados brutos de maneira que eles se tornem significativos. A pesquisa mostrou-se uma rica experiência de aprendizagem. Aprendemos a coletar dados, organizá-los, categorizá-los, e analisar-lhes o conteúdo visando questões de gênero textual, tema, métodos e discussão. Para além disso, foi possível compreender a partir do levantamento das produções e confecção do artigo sobre o papel da Psicologia; a qual se mostrou oscilar entre a criticidade e em outros momentos contribuir com a manutenção da psicopolítica neoliberal. Tal constatação é imprescindível na medida em que é preciso realizar questionamentos e análises a fim de perceber que tipo de Psicologia tem sido produzida e a quem têm servido. Percepção essa que preconiza qualquer intervenção necessária que almeje uma Psicologia comprometida ética e socialmente com as necessidades sócio-históricas da nossa sociedade brasileira, que vem a demandar (des)construções do campo psicológico. Gostaríamos de compartilhar essa experiência e os aprendizados decorrentes não apenas dos resultados da pesquisa em si, mas principalmente da construção do processo de pesquisa. Tratou-se de um tema proposto por um grupo de estudantes de graduação, interessados em investigar e debater mais a fundo as contradições da sociedade neoliberal e a crise da pandemia de Covid-19 nesse período histórico que vem sendo discutido como o Antropoceno. A partir do enfoque das produções de psicologia no período, foi possível tecer esse debate com base na resposta dada pelo campo científico/profissional. Destacamos, ao longo do processo, a importância de haver uma orientação empática, discussão livre, construção cooperativa e, enfim, a ciência elucidativa de formar um panorama, explorá-lo, e analisar a conjuntura sociopolítica do país no nosso recorte temático e suas ramificações. A confeccção da produção também auxiliou na compreensão e apreensão de conhecimento quanto à montagem de um artigo a partir do método de revisão bibliográfica. Mediante orientação foi possível vislumbrar e colocar em prática as etapas que competem uma revisão. Quanto ao conteúdo que foi trabalhado, vislumbrou-se que as produções da Psicologia no contexto da Covid-19 se apresentaram de maneira muito diversa. A Psicologia Brasileira na resposta à COVID-19 esteve voltado prioritariamente à discussão sobre aspectos de saúde mental, incluindo as próprias técnicas de intervenção psicológica. Os textos abordaram também temas interseccionais, havendo predominância dos debates de gênero e classe, enquanto a tematização do racismo apareceu de forma muito pontual.

Palavras-chave: psicologia social; COVID-19; produções acadêmicas.