Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Sertões pelos(as) sertanejos(as): identidade e seca em imagens
João Batista da Silva Dantas (Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí/UFRN)
Fernanda Fernandes Gurgel (Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí/UFRN)
Luan Silva Medeiros (Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí/UFRN)
Resumo: O estereótipo hegemônico sobre o Nordeste, tomado como sinônimo de Sertão, invisibiliza a diversidade do seu povo, reduzindo-o à imagem caricata do nordestino como sendo o sertanejo flagelado pela seca, ignorante, miserável e arcaico. Tais estereótipos, ainda disseminados por diversos veículos midiáticos, são reflexo de um espaço imaginado como majoritariamente seco, pobre, desolado por causas naturais e tecnologicamente atrasado. Na construção das identidades somos autores(as) e personagens de uma história, onde o outro influencia na identidade do sujeito ao mesmo tempo em que o oposto acontece. Desta forma, a identidade se apresenta como um contínuo movimento processual simbolizado pela metáfora da metamorfose. É importante considerar, também, que a relação das pessoas com os lugares são importantes para compreensão da identidade, visto que no território em que elas vivem, são desenvolvidos sentimentos de pertencimento e construídas memórias, individuais e coletivas. Fazendo parte de um estudo mais abrangente, denominado “A seca e suas implicações psicossocioambientais na vida de agricultores da região do Trairi/RN”, este trabalho tem por objetivo compreender, a partir de fotografias, a relação entre a da vivência de agricultores(as) familiares frente à seca e a auto imagem enquanto sertanejo e sertanejas. Esta pesquisa está baseada em uma abordagem qualitativa. Nela, realizamos entrevistas com roteiro semi-estruturado contendo perguntas que versam sobre o significado de ser sertanejo(o) e sobre a auto identificação dos/as entrevistados. Em seguida, solicitamos que o(a) participante escolhesse um objeto ou paisagem que, para ele(a), representasse sua identidade enquanto sertanejo(a). Foi dada a opção de escolher compor a foto na hora, com auxílio dos(as) pesquisadores(as), ou que nos fosse enviada alguma fotografia de sua autoria feita anteriormente. Os resultados aqui apresentados correspondem apenas à análise das fotografias/imagens. Utilizada como estratégia metodológica, a fotografia atua como instrumento de estudo do ser sertanejo(a) e das identidades que emergem a partir dele(a), dando a possibilidade de capturar, em um instante, a parte de uma trajetória, nunca definitiva, por meio de um olhar fotográfico. A fotografia necessita não somente das suas qualidades técnicas e estéticas, mas também de uma leitura sociológica que a atravessa, escapando de uma metodologia verbo-centrada e permitindo enxergar o não-dito. Além disso, a utilização da composição fotográfica torna mais evidente para os sujeitos a noção que eles têm de sua participação na construção do saber científico. E na medida em que produzem imagens sobre o seu lugar, o seu trabalho e seu modo de vida, estas pessoas passam a se ver como construtores(as), não apenas de seus modos específicos de existir, mas também de uma teia de significados sociais. Foram realizadas seis fotografias, sendo de dois homens e de quatro mulheres, cinco foram feitas durante a pesquisa e apenas uma enviada do arquivo pessoal do participante. Nas imagens, observamos a predominância de paisagens verdes, todas elas das lavouras onde os(as) participantes trabalham. Em duas fotografias o objeto escolhido pelo(a) participante foi a enxada e em outra o participante escolheu fotografar um açude. No caso do participante que se recusou a realizar a fotografia no momento da pesquisa, a justificativa foi de que aquela paisagem que estava sem plantio devido a seca não o representava. O participante optou então por nos enviar uma fotografia feita anteriormente na qual observamos uma lavoura com várias hortaliças. A partir dos resultados, é possível identificar que a autoimagem dos(as) sertanejos, no contexto analisado, aponta para um sentido totalmente oposto à imagem estereotipada do Sertão e do povo sertanejo. Também, observamos que, apesar de todos os(as) entrevistados(as) declararem ter vivenciado períodos severos de seca, este fenômeno não se fez presente nas falas enquanto condicionante de suas respectivas identidades. Com esse estudo pretendemos ampliar a discussão acerca da compreensão sobre a imagem do Sertão e a auto imagem dos sertanejos e sertanejas. E assim, esperamos que os resultados dessa pesquisa ampliem os debates sobre o tema analisado contribuindo para a construção do conhecimento da psicologia no contexto das ruralidades e para o entendimento acerca da identidade do povo do Sertão Nordestino.
Palavras-chave: Identidade; sertão; seca; agricultura; fotografia.