Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Acesso às políticas públicas de saúde mental pela população do campo

Veronica dos Santos Lima (UNIFACS - Universidade Salvador).

Giovana Oliveira Barbosa (UNIFACS - Universidade Salvador)

Tiara Santos Melo (UNIFACS - Universidade Salvador)

Resumo: O campo é um território múltiplo, em sua cultura, nos grupos populacionais, os quais englobam diversas identidades sociais – quilombolas, indígenas, ribeirinhos, dentre outros – e que ali, ao residirem naquele espaço, vão construir vivencias e atribuir significações. Dessa forma, a população do campo pode ser reconhecida pela sua pluralidade, pelo senso de coletividade, pela luta, pelas diversas formas de trabalho com o solo. Contudo, apesar de da sua diversidade, no imaginário popular, o território considerado rural remete a uma ideia de atraso, inferioridade, pobreza, e a uma população marcada pelo sofrimento, desprovida de conhecimento (MARTINS, 2010; REIS; CABREIRA, 2013). Considerando a diversidade da população oriunda do campo, ao se pensar em um cuidado em saúde mental é preciso abranger a multiplicidade que a caracteriza. No desenvolvimento do seu trabalho Mauricio Cirilo da Costa Neto e Magda Dimenstein citam Milton Santos reforçando a influência exercida pelo território na construção de identidade daqueles que nele habitam, visto que, é no território que serão desenvolvidos relações sociais, pessoais, políticas e culturais (NETO e DIMENSTEIN, 2017). Nesse sentido, algumas adversidades relacionadas ao território pode vir a impactar na saúde mental dos que ali residem. Como exemplo, tomamos o trabalho com o solo, que configura importante fonte de renda e subsistência para muitas famílias, que depende diretamente de questões climáticas e ambientais, o que pode gerar para essas pessoas o sentimento de angústia frente à incerteza, ao medo e a preocupação (NETO e DIMENSTEIN, 2017), sobretudo quando consideramos que segurança nutricional tem relação direta com saúde mental. Ainda que o campo tenha protagonizado mudanças com o passar do tempo, a população ainda lida com inúmeras situações de vulnerabilidades e que marcam a diferença dos centros urbanos, em que pese as particularidades destes. Neste sentido, é possível acompanhar uma disparidade entre o investimento de verbas públicas destinadas ao espaço rural e os centros urbanos. Essa distinção favorece o aumento da desigualdade social e econômica, o contexto de exclusão social, dificuldade de acesso a programas sociais, dentre outras (REIS; CABREIRA, 2013; NETO; DIMENSTEIN, 2017). Dessa forma, surgiu-se a necessidade de investigar a efetividade dos cuidados em saúde mental que estão sendo ofertados a esta população, além de buscar identificar os equipamentos de saúde dentro desse território e as dificuldades enfrentadas por esses indivíduos para acessar esses serviços, visto que, é imprescindível uma atenção integral que considere as particularidades desses habitantes. Logo, para amparar esta investigação, foi recorrida a uma metodologia mista que visa integrar e complementar dados quantitativos e qualitativos, buscando melhores perspectivas analíticas. O que contribuiu para o meu desenvolvimento acadêmico, ao ter a possibilidade de conhecer e explorar instrumentos metodológicos. Para além disso, essa investigação vem contribuindo para instigar questionamentos frente a questões sociais e cotidianas, permitindo expandir o olhar e o senso crítico as demandas das coletividades e grupos diversos, incluindo aqueles dos quais me sinto pertencente como mulher negra oriunda do campo. Em contraponto, tornar-se pesquisadora é um trajeto desafiador, não linear e apresenta caminhos e descaminhos, o que requer do sujeito desvios necessários quando se pretende descrever e copreender o objeto de estudo. Em minha experiência, inicialmente, o grande desafio foi caracterizar o objeto de estudo, uma vez que, o campo engloba uma multiplicidade de formações grupais, exigindo assim um olhar ampliado por parte do pesquisador. Contudo, perceber essa característica originou a satisfação em descobrir aspectos marcantes para essa população que, se deixados ao largo, pode contribuir para a invisibilidade histórica da população em epígrafe. Durante esta trajetória outro grande desafio decorreu diante da dificuldade em conciliar a iniciação ciêntifica com a graduação, devido as rotinas extensas que ambos irão demandar, sobretudo quando esse processo se inicia meio a um contexto pandêmico. Todavia, esse momento possibilitou a vivência de uma nova perspectiva da universidade, o que contribuiu para minha permanência no ambiente acadêmico, com impacto direto na qualidade da relação com saber e o desenvolvimento de habilidades próprias do sujeito pesquisador, tais como o raciocínio reflexivo crítico, a formulação de perguntas e hipóteses, além da busca incessante por repostas. 

Costa, Mauricio Cirilo da e Dimenstein, MagdaCuidado Psicossocial em Saúde Mental em Contextos Rurais. Trends in Psychology [online]. 2017, v. 25, n. 4 [Acessado 24 Agosto 2022] , pp. 1653-1664. Disponível em: <https://doi.org/10.9788/TP2017.4-09Pt>.  

Reis, Rosana Gomes e Cabreira, LucimairaAs políticas públicas e o campo: e o Psicólogo com isso?. Psicologia: Ciência e Profissão. 2013, v. 33, n. spe, pp. 54-65. Disponível em: <>. Epub 06 Jan 2014. ISSN 1982-3703. 

MARTINS, Alberto Mesaque et al . A formação em Psicologia e a percepção do meio rural: um debate necessário. Psicol. Ensino & Form.,  Brasília ,  v. 1, n. 1, p. 83-98, abr.  2010 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-20612010000100008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  24  ago.  2022..


Palavras-chave: Políticas públicas, saúde mental, campo.

Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO