Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Desigualdades de gênero na educação profissional: uma história de classe e de raça
Anna Júlia Giurizatto Medeiros
(Instituto Federal de Alagoas e Universidade de Salamanca)
Resumo: A educação profissional é extremamente importante para o desenvolvimento das nações. A possibilidade de uma maior escolaridade e acesso à cidadania, através da distribuição do conhecimento e da qualificação da população para a sua inserção no mercado de trabalho, evidenciam a relevância do tema. A concepção de que a educação tem um papel fundamental a desempenhar no progresso das sociedades e na redução das desigualdades tem sido amplamente divulgada pelas diretrizes de vários organismos internacionais, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Mas esta associação não significa que a oferta de educação se destine necessariamente a reduzir as desigualdades. A organização dos processos estruturais de produção, do mercado de trabalho e das políticas reguladoras de cada país em relação à economia capitalista globalizada é o que orienta o papel que o ensino profissional assume nas sociedades, não está diretamente ligado à ampliação da cidadania. Considerando isto, para compreender a educação profissional no Brasil, é essencial entender a sua ligação com as estruturas da sociedade. Classe, raça e gênero, como marcadores estruturantes da desigualdade, permeiam as relações estabelecidas em todas as instituições da sociedade e a educação é um dispositivo importante para a propagação da sua lógica. A história da educação, e especificamente da educação profissional no país, mostra como estas desigualdades foram geradas dentro destes espaços. Contudo, os estudos costumam apontar as desigualdades de maneira fragmentada, sem interligação entre as diversas formas de opressão na construção do modelo desigual de educação. Assim, este trabalho tem o objetivo de compreender como as desigualdades de gênero, interseccionada com as questões de raça e classe, estão presentes nos institutos federais. Para tanto, reúne um estudo teórico sobre a trajetória histórica da educação profissional no Brasil, desde o seu início até à configuração atual. Marcado pela história de modelos distintos de educação para cada público, o ensino profissional foi estruturado como uma forma de atender as dinâmicas sociais e econômicas do país de adestrar os homens pobres para o trabalho. Durante um longo período, esta distinção de modelos educativos impediu a educação de elevar a escolaridade da população brasileira e contribuir para a inserção de mulheres, das pessoas pobres e não brancas como cidadãos e cidadãs. Mas esta situação não ficou sem contestação. Havia muitos movimentos sociais que exigiam a importância da educação das mulheres e um modelo de educação na qual os conhecimentos técnicos, científicos e profissionais fossem integrados. As grandes disputas ao longo da história sobre o modelo de educação que deveria ser oferecido pelas instituições de ensino profissional levaram a numerosas mudanças nesta política. A inserção das mulheres nas áreas predominantemente masculinas do ensino profissional ocorreu muito lentamente e as mudanças mais eficazes nesta política educacional, que permitiram uma ruptura com o perfil assistencialista, são ainda muito recentes. Contudo, com o regresso dos movimentos conservadores no país, o risco de desmantelamento do modelo mais democrático de ensino profissional que tomou forma nos últimos anos é elevado. As políticas de corte de recursos para educação vem acompanhada de discursos e práticas institucionais voltadas a deslegitimar a importância da educação pública e desqualificar os debates e conquistas em torno das políticas de inclusão social. Esta realidade reflete a necessidade de encorajar este debate, apontando elementos que indicam o aumento das desigualdades nos institutos federais.
Palavras-chave: Educação profissional; Institutos federais; desigualdades de gênero; história.