Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

A centralidade do amor na pesquisa acadêmica

Marielle Giovanna da Silva Teixeira. Universidade Federal de Alagoas

Telma Low Silva Junqueira. Universidade Federal de Alagoas

Maria Beatriz Rocha de Alencar. Universidade Federal de Alagoas

Maria Daniella Nascimento Souza. Universidade Federal de Alagoas

Pietra Moreira Gonzalez. Universidade Federal de Alagoas

Geane Araújo de Lima. Universidade Federal de Alagoas

Kemilly Mariana Martim Jacinto. Universidade Federal de Alagoas

Resumo: Neste texto compartilhamos a experiência de encontros semanais de um grupo de pesquisa constituído por mulheres brancas e negras, de diferentes idades, sexualidades e classes sociais, sem deficiência, discentes e docente do curso de psicologia de uma universidade pública federal, localizada no nordeste brasileiro, a partir de um projeto interprofissional que investiga os desafios e as estratégias de educação permanente na saúde materno-infantil. Diante de um saber-poder hegemônico, positivista e universal, que estabelece a frieza e o distanciamento afetivo no processo de produção do conhecimento, buscamos nas teorias feministas e decoloniais possibilidades não hegemônicas de articular poderes-saberes com os nossos fazeres-sentires, na medida em que nossa atu-ação, habitada por afet-ações diversas, se torna o motor de um agir implicado e amoroso, como nos convida a vivenciar bell hooks. Inspiradas nela e em outras pensadoras negras, exercitamos a educação como prática de liberdade e o regressar ao amor como dimensão ético-política na academia, compartilhando nossos conhecimentos e questões, articulando-os com quem somos, com nossas histórias e afetos, situadas da parcialidade dos marcadores sociais que incidem sobre nós, nos unem e nos distinguem no intenso tráfego interseccional e epistêmico. Assim, guiadas por tal modo de fazer e ser academia, os encontros semanais se iniciaram em setembro de 2021 e permanecem até o momento, sendo de maneira virtual até março de 2022, quando passamos a nos reunir presencialmente. Frente à devastadora pandemia da covid-19, ao ataque e retirada de direitos e aos retrocessos do atual governo do país, sobretudo no campo da saúde materna e infantil, reivindicamos a dimensão ético-política do amor como força capaz de transformar o ambiente acadêmico, acolhendo as dores e violências que nos atravessam no cotidiano, e que não estão apartadas desta pesquisa, para que a teoria e prática sejam espaços comuns de cuidado, partilha e cura. Em meio ao caos, gestamos a ética amorosa entre nós e como horizonte de transformação da sociedade, de modo que as teorias feministas, especialmente o feminismo negro interseccional, adubou o árido campo político em que nos encontramos, alimentando fagulhas de esperançar e desejo por justiça social, a partir da defesa do Sistema Único de Saúde na oferta de um cuidado mais humanizado, equitativo, integral, implicado nos processos de trabalho interprofissionais e capazes de reconhecer a interseccionalidade como fator preponderante ao pensar as políticas públicas para as pessoas que gestam e parem. Inseridas nesse cenário, realizamos uma pesquisa documental focada em documentos de domínio público que se dedicam a pensar o processo de gestar e parir, com ênfase no acompanhamento pré-natal no contexto da atenção básica e das maternidades vinculadas ao SUS. Também desenvolvemos uma pesquisa bibliográfica na base de dados Scielo, buscando compreender se, e como, as produções científicas publicadas a partir de 2011, ano de criação da Rede Cegonha, Portaria nº 1.459 de 24 de junho de 2011, (des)consideram o tripé teórico-metodológico da interseccionalidade, interprofissionalidade e educação permanente em saúde em suas pesquisas. Neste momento, estamos finalizando a pesquisa de campo, realizando 12 entrevistas online com trabalhadoras da saúde materno-infantil com o intuito de compreender como são os seus cotidianos profissionais e se esse tripé atravessa e se faz presente em suas práxis. O processo de pesquisar considerando nossas singularidades tem sido permeado também por um cuidado com as pessoas protagonistas da pesquisa e com os materiais analisados. Assim, nos posicionamos e defendemos a construção de um conhecimento situado e parcial, que re-conhece e dá lugar para as afet-ações, inquiet-ações e questões que surgem do/no encontro com outros seres-saberes-fazeres, gerando encantamentos diversos e potentes, que nos convidam a seguir resistindo e apostando na descolonização dos afetos e do conhecimento como aspectos centrais da universidade. Os resultados parciais apontam para a relevância de gestarmos e parirmos uma formação em saúde, com destaque para a saúde materno-infantil, que valorize, nos currículos formais e ocultos, as epistemologias e práticas não eurocêntricas e decoloniais, que reverenciam os saberes tradicionais e possibilitem que as pessoas com útero que gestam e parem o experienciem desde a perspectiva de um cuidado em saúde amoroso e singular. Logo, partimos da amorosidade como estratégia que se opõe ao saber-poder colonizador, entendendo-o como um desafio que se coloca nos territórios de disputas da academia e da saúde, com seus cenários machistas, classistas, capacitistas e racistas, opressores e preconceituosos, no qual nós, mulheres feministas e antirracistas acadêmicas, nos comprometemos e vamos à luta para construir vínculos e conhecimentos.


Palavras-chave: Interseccionalidade; Pesquisa em saúde; Teorias feministas; Ética amorosa.

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