Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Desafios e contribuições da Psicologia no SUAS: Um Relato de Experiência na Supervisão Clínica
Luana de Castro Teixeira Bueno (Universidade Federal de Pernambuco)
Resumo: Este trabalho trata-se de um relato de experiência baseado nas observações das atividades que foram acompanhadas pela estagiária no campo de atuação do estágio obrigatório, mais especificamente na Unidade de Gestão do Trabalho e Educação Permanente (UGTEP) localizada na Prefeitura do Recife (PE). Durante esse período, foi possível analisar diversas questões sociais, institucionais e subjetivas, nas Casas de Acolhimento e no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), onde as atividades ocorreram. Assim, a temática abordada é a problematização da falta de atenção, valorização e cuidado numa dimensão psicossocial, política e econômica dos trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Nesse sentido, cabe a UGTEP no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), compreender o planejamento, a organização e a execução das ações relativas à valorização do trabalhador e à estruturação do processo de trabalho institucional, cujas ações constituem-se por dois eixos estruturantes: Gestão do Trabalho — que contempla a Saúde do Trabalhador — e Educação Permanente. Entre as atribuições da UGTEP-SUAS, quanto a Gestão do Trabalho, também está a prevenção e promoção à saúde do/a trabalhador/a e, considerando isso, foi implantado em 2019 o Suporte Emocional Individual e a Supervisão Clínica, ambos com o objetivo de tratar questões emocionais que emergem nas e das relações de trabalho dos/as trabalhadores/as do SUAS no Recife (PINHEIRO et al., 2021). A importância das ferramentas socioassistenciais mencionadas acima ficou ainda mais evidente durante a pandemia do Covid-19, a qual desencadeou nos/as trabalhadores/as emoções que se constituíram em fadiga, desconforto, desamparo, medo, ansiedade e preocupação com a família e público atendido (PAIANO et al, 2020 apud PINHEIRO et al., 2021). A questão central é que apesar de haver ferramentas como a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e a Política Nacional de Assistência Social, os quais prometem proteção e seguridade social, o trabalho desenvolvido na assistência social tende a ser funcional à reprodução da subalternidade, sustentando-se em matrizes conservadoras, e atingindo, sobretudo, a classe trabalhadora no que tange aspectos materiais e subjetivos (RAICHELIS, 2010, p. 759 apud CRUS, 2011). Trata-se de uma dinâmica institucional que desencadeia desgaste e adoecimento físico e mental e que, no caso dos trabalhadores do SUAS, precisa ser melhor conhecido, pois esta é uma questão nova que requer pesquisas e estudos que possam mapear situações e embasar reivindicações coletivas que particularizem as específicas condições de trabalho na política de assistência social, nos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) e nos âmbitos estatal e privado. A Psicologia, nessa busca, constrói referenciais teóricos que balizam o compromisso ético com a população em situação de vulnerabilidade social. Baseia-se no sofrimento ético-político apontado por Sawaia (2007 apud NERY, 2009). Assim, como ela destaca, “a exclusão vista como sofrimento de diferentes qualidades recupera o indivíduo perdido nas análises econômicas e políticas, sem perder o coletivo” (p. 98) de modo que se compreende a necessidade da adoção de abordagens conceituais que produzam compreensões sobre o social, para além da “patologização” da questão social ou culpabilização do indivíduo por sua situação social” (SAWAIA, 2007 apud NERY, 2009). Com isso, em contraposição às diversas barreiras e dificuldades encontradas, uma das principais estratégias adotadas é a Supervisão Clínica, que é um espaço de cuidado e de atuação de somente psicólogos que trabalham questões emocionais e psíquicas que emergem e interferem nas relações inter e intrapessoais em cada unidade de atendimento dos serviços ofertados no SUAS do Recife. Ademais, pontua-se que os grupos são realizados por solicitação da chefia mediata ou imediata, por demanda espontânea ou pela avaliação da supervisão técnica. Além disso, contribui subsidiando esta com pontuações que precisam ser trabalhadas com relação à prática profissional desempenhada no cotidiano do Serviço ofertado aos usuários e suas famílias (PINHEIRO et al., 2021). Como aprendizado das diversas experiências pontuadas, fica claro que é necessário ampla divulgação desses serviços prestados de acolhimento, conduta ética e escuta empática, sobretudo; confiança e parcerias entre a unidade da prefeitura e as gestões de assistência social no sentido de possibilitar a participação dos trabalhadores nos encontros e oficinas ofertadas; financiamento e valorização dos profissionais que prestam esses serviços de acolhimento e escuta (“cuidar de quem cuida”), além dos trabalhadores que prestam serviços gerais, os quais são invisibilizados no próprio ambiente de trabalho, deixados sem qualificação, sem carteira assinada e muitas vezes sem espaço para a validação e reconhecimento de suas angústias. Nesse sentido, por fim, é imprescindível reconhecer que a realidade socioeconômica e política está para além de mobilizações a nível individual, como por exemplo, muitos profissionais dizem que precisam escolher “o mais miserável dentre os miseráveis” para entregar uma cesta básica para uma família dentre várias, o que afeta a dignidade do sujeito enquanto ser humano, mas que apesar de tudo, afirmam fazer seu trabalho “por amor e afeto às pessoas que precisam de ajuda”..
Palavras-chave: Psicologia; Assistência social; Saúde do(a) trabalhador(a); SUAS.