Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO 

VOL. VIII, 2022

PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS

ISSN 2965-226X

Pandemia, vacinação anti-COVID-19 e saúde mental: análises e contribuições da Psicologia social latino-americana e dos Feminismos

Karolina Mirella Oliveira Pereira Costa: Universidade Federal de Pernambuco/ UFPE. Membra da AColetiva/LABESHU. 

Karla Galvão Adrião: Universidade Federal de Pernambuco/UFPE, Arteterapeuta e membra da AColetiva/LABESHU

Resumo: A partir do advento da pandemia do novo coronavírus (COVID-19) em 2020 no Brasil, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram orientados, através de notas técnicas, a suspenderem atendimentos eletivos e atividades coletivas, por conta das medidas restritivas de contato. No entanto, o contexto de crise emergiu a necessidade de medidas de prevenção e intervenção em saúde mental. Pensando nisso, construímos uma pesquisa com fins de investigar o funcionamento dos CAPS durante a pandemia, tendo como pontos de partida a Psicologia Social latino-americana e os estudos feministas decoloniais e pós-estruturalistas. Alinhamo-nos com autoras que destacaram o deslocamento do discurso homogeneizador da COVID-19 como algo meramente biológico e evidenciaram que as mulheres que estão “ao sul da quarentena” foram as mais afetadas. Os objetivos da pesquisa foram os seguintes: analisar o funcionamento dos CAPS de Pernambuco no contexto da pandemia da COVID-19 a partir do relato de profissionais mulheres que compunham a equipe mínima do serviço; observar quais atendimentos realizados e como estes aconteceram durante a crise sanitária; investigar os impactos da vacinação anti-COVID-19 na produção de práticas antimanicomiais. Tratou-se de um estudo com abordagem qualitativa, realizado em outubro de 2021, através da metodologia da “pesquisa-intervenção-pesquisa”. Participaram quatro trabalhadoras, sendo uma profissional de educação física, uma técnica de enfermagem, uma psicóloga e uma enfermeira. Elas trabalharam presencialmente ou online durante a pandemia em diferentes cidades do estado de Pernambuco. Utilizou-se como instrumentos: oficinas, entrevista semiestruturada e diário de campo. Priorizou-se o uso de linguagens artísticas como dispositivo de abertura para participação e diminuição de silenciamentos. Os métodos da Dançaterapia e do Teatro do Oprimido ajudaram a fomentar temáticas e gerar possibilidades de expressão que foram transformadoras em um cenário em que os corpos estavam hiper vigiados e contidos por conta das medidas de isolamento. Organizou-se os dados a partir da Análise Temática. Segundo as interlocutoras desse estudo, entre março de 2020 e janeiro de 2021, os atendimentos nos CAPS se resumiram à entrega de medicamentos e consultas com psiquiatras. Nesse mesmo período, os outros pontos de atenção da RAPS, como a Atenção Básica, ficaram sobrecarregados com demandas decorrentes da infecção pelo novocoronavírus. A vacinação anti-COVID-19 em Pernambuco aconteceu a partir de janeiro de 2021. Com o avanço da imunização observou-se três importantes repercussões nos CAPS: a retomada gradativa de atendimentos presenciais, individuais e coletivos, seguindo as medidas de distanciamento; o retorno de ações intersetoriais em conexão com os outros serviços da RAPS; maior segurança e bem-estar por parte das trabalhadoras para desenvolver suas atividades laborais. Concluímos que o inicio da imunização foi um marco significativo para o campo da saúde mental brasileira. Contribuiu positivamente não só para amortecer a letalidade causado pelo vírus, mas também para o fortalecimento de uma atenção psicossocial congruente com os princípios da Reforma Psiquiátrica. Realizar esse estudo foi desafiador por conta do contexto pandêmico a antidemocrático que o país está atravessando. Nesse sentido, utilizamos os recursos artísticos, nos encontros com as interlocutoras desse estudo, como instrumento que potencializou a cidadania e buscou ampliar a percepção de si e das demais, valorizando e despertando a criatividade, ajudando a criar novas formas de sentir e de viver. Um outro desafio que cabe destaque, foi pensar as articulações teórico-metodológicas dos feminismos decolonial e pós-estruturalista e a Psicologia Social latino-americana. Concordamos que há uma consonância entre essas bases epistêmicas quando estimulam a possibilidade de os grupos oprimidos latino-americanos converterem-se em sujeitas/os de sua história. Aproximam-se ainda quando afirmam que não há teorias neutras e possuidoras de verdades universais. Pesquisar-intervir com esses marcos de mirada implicou na desnaturalização dos fenômenos cotidianos, considerando o caráter histórico das experiências subjetivas. Juntas, essas perspectivas nos ajudaram a criar memórias de resistência para e de práticas que ancoram projetos coletivos de futuro.


Palavras-chave: Psicologia social latino-americana; feminismos; vacinação anti-covid-19; saúde mental; CAPS.

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