Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO
VOL. VIII, 2022
PSICOLOGIA SOCIAL E PRÁXIS INTERSECCIONAL: DESAFIOS FRENTE À TAREFA DE RECONSTRUÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
ISSN 2965-226X
Violência contra mulheres lésbicas e bissexuais em tempos de COVID-19: dialogando com produções jornalísticas
Clara Mariana Cruz Ramos (Universidade Federal de Pernambuco)
Benedito Medrado (Universidade Federal de Pernambuco)
Arles Monaliza Rodrigues Nascimento (Universidade Federal de Pernambuco)
Resumo: Resumo: Este trabalho tem como objetivo discutir os resultados de uma pesquisa em que buscamos analisar produções discursivas sobre violência contra mulheres lésbicas e bissexuais, bem como estratégias de enfrentamento dessas mulheres ao preconceito e discriminação no período da pandemia da COVID-19, em Pernambuco. Compreendemos, a partir de revisão de literatura, que em nossa sociedade mulheres não heterossexuais apresentam vulnerabilidade social caracterizada pela rejeição familiar e comunitária e pela falta de apoio institucional, o que resulta em violação de direitos e riscos para a sua saúde mental e integridade física. Além disso, pesquisas no campo dos estudos de gênero evidenciam que com o advento do novo coronavírus (que exigiu medidas sanitárias de prevenção, baseadas no distanciamento social e confinamento domiciliar) houve um agravamento dessa vulnerabilidade, visto que essas mulheres passaram a conviver ainda mais com suas/seus familiares e/ou parceiras/os agressoras/es, distanciadas das suas redes de apoio e tendo que lidar com a precarização e/ou perda de seus empregos. Em nossa pesquisa, para produzirmos uma aproximação a este campo de discussões, propusemos uma leitura psicossocial construcionista sobre a produção jornalística do estado de Pernambuco veiculada pelos jornais de maior circulação no estado (Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio e Folha de Pernambuco). Para tanto, utilizamos de forma isolada e combinada, as palavras-chave: mulheres lésbicas + bissexuais + violência; mulheres lésbicas + bissexuais + pandemia; lésbicas; mulheres bissexuais. Uma dificuldade desse processo foi acessar matérias pertinentes à nossa investigação, visto que boa parte das matérias que emergiram das nossas buscas tratavam de situações não relacionadas à problemática em questão, mesmo com o uso das palavras-chave, além de que as matérias nos sites do Diario de Pernambuco e no Jornal do Commercio não são organizadas por data, dificultando o acesso às produções do período da pandemia da COVID-19. Optamos por realizar uma leitura socioconstrucionista do corpus analítico que se justifica pelo entendimento de que a mídia jornalística, enquanto prática discursiva, é histórica e socialmente situada e constrói versões da realidade que serão amplamente circuladas, selecionando as informações que serão enfatizadas e problematizadas ou não, presentificando dialogias e produções de sentidos sobre a realidade social. Em nossa análise, focalizamos nos repertórios interpretativos, modos de subjetivação e jogos de poder presentes, a partir da ferramenta metodológica de mapas dialógicos, para dar visibilidade à produção de sentidos sobre violência contra mulheres lésbicas e bissexuais e às suas formas de enfrentamento. A nossa escolha teórico-metodológica foi fundamentada nas leituras críticas feministas sobre o fazer científico e seus pressupostos de neutralidade, objetividade e universalismo, e os referenciais do construcionismo social que versam sobre práticas discursivas e a produção de sentidos. Em nossas análises percebemos que, de todo o material que encontramos sobre violência LGBTfóbica, poucas produções se direcionam especificamente à realidade das mulheres lésbicas e bissexuais no contexto da COVID-19 e raras contém narrativas dessas mulheres. Entendemos que essas faltas refletem a persistência de uma trajetória histórica de silenciamento de mulheres bissexuais e lésbicas e de invisibilização das suas experiências, além de dificultar um maior alcance do nosso objetivo de pesquisa. Em muitas produções, as vozes que são referidas são de representantes e órgãos governamentais expondo as estratégias implementadas contra a lesbofobia e bifobia, não explicitando, contudo, como essas dinâmicas de violência se operam, nem dando visibilidade às medidas de enfrentamento das próprias mulheres que sofrem com essa violência. Portanto, compreendemos que dificilmente é dado espaço para que essas mulheres possam ser ouvidas pela mídia jornalística que foi analisada e que as informações veiculadas nas matérias não são suficientes para que os riscos e condições de saúde e adoecimento de mulheres lésbicas e bissexuais na pandemia do novo coronavírus sejam compreendidos. Esperamos que os resultados desta pesquisa contribuam para ampliar a visibilidade dessa problemática e contribuam para a implementação de estratégias governamentais contra a violência baseada em orientação sexual
Palavras-chave: Lésbicas; Bissexuais; Violência; COVID-19; Enfrentamento.